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Witzel recua de protocolo que prevê a escolha de pacientes para leitos de UTI no RJ

Conhecida como "escolha de Sofia", medida prevê seleção de quais pacientes teriam acesso a leitos

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O documento orientaria aos profissionais de saúde escolherem quais pacientes deveriam ter acesso a leitos de UTI - Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro
Conhecida como "escolha de Sofia", medida prevê seleção de quais pacientes teriam acesso a leitos

O governo estadual do Rio de Janeiro, chefiado por Wilson Witzel (PSC), recuou quanto à publicação de um protocolo que vinha sendo estudado pelas autoridades locais e que sugeriria a “escolha de Sofia” aos profissionais de saúde, durante a pandemia causada pelo novo coronavírus

A partir do documento, os trabalhadores seriam orientados a escolher quais pacientes teriam acesso a leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quando houvesse mais doentes do que vagas nos hospitais. 

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O protocolo traria algumas considerações a serem feitas pelos médicos, como histórico clínico, nível de oxigenação, pressão arterial, plaquetas no sangue e doenças pré-existentes, como diabetes, insuficiência cardíaca e câncer.

Conforme as características do paciente, este poderia atingir uma pontuação que vai de zero até 24. Quanto maior a pontuação, menos as chances de conseguir uma vaga em UTI.

Antes mesmo do documento ser publicado, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que faz parte da comissão de combate ao novo coronavírus na Câmara dos Deputados, protocolou uma ação no Ministério Público Federal (MPF) e outra na Defensoria Pública da União (DPU) contra a medida do governo do Rio de Janeiro, no dia 4 de maio. 

No texto enviado aos órgãos públicos, a parlamentar, afirma que "não se pode admitir exclusão de tratamento para qualquer pessoa [...]. Medidas urgentes são necessárias. Mas medidas para garantir o isolamento social das pessoas e as condições clínicas e hospitalares para que todos sejam condignamente atendidos por equipes médicas e de atenção à saúde, devidamente equipadas e amparadas".

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Com o lema “Quarentena geral para não adoecer, renda mínima para sobreviver, leitos para todos para não morrer”, o Sindicato dos Médicos do Rio Janeiro, acredita que um protocolo como o proposto pela Secretaria Estadual de Saúde diminui a chance de pacientes em grupos de risco obterem uma vaga em UTI.

O diretor de comunicação do sindicato, Carlos Vasconcellos, médico de família e comunidade, acredita que a “escolha de Sofia” não é uma medida a ser colocada nesse momento pelos gestores. Para ele, um protocolo como o que vinha sendo estudado pelo governo só pode ocorrer quando todos os recursos se esgotarem, e ressalta que "não tem nada esgotado ainda”.

Não se esgotaram, enquanto política de Estado, todas as alternativas para evitar a escolha. Há uma série de leitos não utilizados na rede pública, não foi feita a requisição dos leitos privados, ou seja, essa medida é a última possível numa situação que efetivamente você esgota todos os recursos.

O médico defende ainda que os pacientes não podem ser excluídos de qualquer tipo de tratamento. “Se eu sei que um vai morrer, vou garantir a ele que essa morte ocorra sem sofrimento. Ou seja, ele tem direito a um leito hospitalar, a medicamentos para aliviar o sofrimento, suporte psicológico, enfermagem e médico, mas nada disso foi colocado”, afirma Vasconcellos.

Até o fim desta semana, o governo Witzel se reunirá com os municípios do estado para discutir a requisição de leitos de UTI da rede particular, que tem previsão legal, a fim de aumentar a capacidade hospitalar do SUS e evitar medidas como a “escolha de Sofia”. 

Mesmo com essa possibilidade no horizonte, Vasconcellos acredita que é  "importante mobilizar a sociedade em relação a essas três bandeiras nesta pandemia: leitos para todos, quarentena geral e renda mínima de verdade para as pessoas sobreviverem”.

Até às 22h deste domingo (10), o estado do Rio de Janeiro registrou 1.714 óbitos e 17.062 confirmados de covid-19, e a letalidade chegou em 10%, uma das maiores do País.

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O documento vinha sendo elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, ao lado de outros órgãos como Conselho Regional de Medicina (Cremerj), Academia Nacional de Cuidados Paliativos, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Sociedade de Terapia Intensiva e Universidade Federal Fluminense.

Edição: Leandro Melito