Ele dizia que a arte, por natureza, é visceral e transgressora
Uma das formas de navegar na história mexicana é apreciar a obra do pintor Diego Rivera. O afresco “A história do México” coloca a conquista espanhola literalmente ao lado dos povos pré-colombianos e da Revolução Mexicana de 1910. Em outras palavras, a obra concluída em 1935 no Palácio Nacional do México junta estética, história e política entre colonização européia, cultura tradicional e mobilização popular.
Quase um século após a obra “História do México” as novas tecnologias ampliaram as possibilidades da linguagem visual. Nos dias atuais uma afirmação LGBT pode estar na grafitagem pelas ruas; uma reivindicação da negritude no quadrinho da rede social ou uma mensagem pela reforma agrária no estêncil de uma camisa, isso só para citar alguns exemplos.
Essas muitas possibilidades de girar pelos tempos, pelas críticas e pela imensidão das artes visuais é uma proposta do trabalho ilustrador La Cruz. Ele mora em Belo Horizonte e reforça a mensagem de que vida, arte e política são inseparáveis. La Cruz cresceu com o incentivo familiar para arte visual, desenvolveu habilidades em cursos e na academia, além de agregar a militância no Levante Popular da Juventude. O ilustrador lembra o pensamento do dramaturgo João das Neves ao falar sobre seus projetos.
“Ele dizia que a arte, por natureza, é visceral e transgressora. Então, a partir do momento que eu entendo o papel político que a arte desempenha na sociedade, eu acho que complementa a minha formação, era o pedaço que faltava para o entendimento do meu trabalho, para que a partir dele, inclusive, se somasse às lutas coletivas, não ficasse no âmbito individual, o que é colocado pela lógica do capitalismo, cada um por si e tentando conquistar algo por meritocracia, que é algo que sabemos que não existe”, destaca.
O Brasil desenhado por La Cruz critica tanto as novas formas de fascismo como as nossas raízes racistas. Temas como questão de classe e amor LGBT também possuem espaço garantido no acervo. La Cruz se inspira em outros artistas visuais da América Latina que se dedicaram à luta popular, a exemplo de Henfil. Ao mesmo tempo, identifica na arte uma forma de perfurar as narrativas que tentam silenciar ou distorcer as vozes populares no presente ou até mesmo no futuro.
“Como documentação, eu acho que a gente pode levar para esse lado também. De que documenta e marca aquele período que a arte está sendo produzida e que ela está dialogando. Isso é muito importante porque serve de legado para que possa ser seguido e referenciado cada vez mais pelas gerações que vão sempre se renovando nas lutas populares”, reflete.
Entre esses próprios reflexos do tempo através da arte, uma das inspirações de La Cruz é Artur Timóteo da Costa, nascido no Rio de Janeiro, no século XIX. La Cruz destaca que arte visual de Artur Timóteo da Costa já apontava contradições sobre as condições das pessoas que foram escravizadas no Brasil. A leitura contemporânea diante das pinturas feitas por Artur Timóteo fazem com que La Cruz reivindique a dita história oficial da arte no Brasil.
“É um artista que inclusive a gente pode reivindicar mais por conta desse trabalho muito importante que ele desenvolve, sendo inclusive o primeiro negro a ter uma visibilidade artística para além do Brasil”, salienta.
Para quem desejar conhecer um pouco da obra de La Cruz, a dica é acessar é seguir seu conta no Instagram.
Edição: Douglas Matos