A Índia começou nesta segunda-feira (18) o que tem sido chamado de lockdown 4.0, ou seja, a quarta etapa de bloqueios para tentar conter o avanço da pandemia do novo coronavírus.
As novas regras, válidas até o fim de maio, variam conforme o número de casos em cada região do país. Até o momento, 97 mil indianos foram infectados e 3,1 mil morreram em decorrência da covid-19.
A incidência proporcional é considerada baixa em comparação com outras nações atingidas pela pandemia. Na Índia, são 2,38 mortes por coronavírus para cada 1 milhão de habitantes; no Brasil, são 78. Com a segunda maior população do mundo, o país asiático é apenas o 16º no ranking de mortes por covid-19 devido às medidas rígidas de isolamento.
Desafios
O aspecto mais polêmico da quarentena indiana é o abandono aos trabalhadores migrantes. Milhares foram demitidos durante os 50 dias de isolamento e não puderam voltar para suas casas, devido à paralisação dos trens e ônibus. Alguns tentam percorrer o trajeto a pé, expostos ao vírus e ao risco de atropelamento, sem nenhum tipo de seguridade social – cerca de 90% da força de trabalho na Índia atua na informalidade.
O governo levou mais de um mês para oferecer linhas de trem alternativas para os migrantes, e nem todos foram contemplados. No último dia 8, no estado de Maharashtra, oeste do país, um trem que transportava mercadorias atropelou e matou 16 trabalhadores que pegaram no sono sobre os trilhos após dias de caminhada.
Na quinta (14) e no sábado (16), outros dois acidentes com caminhões que transportavam migrantes mataram, ao todo, 38 trabalhadores na região norte da Índia.
O final de semana foi marcado por protestos em várias regiões do país. No estado de Punjab, norte indiano, 300 trabalhadores se manifestaram em frente a uma fábrica de fibras acrílicas exigindo o pagamento de salários do mês de paralisação.
Em Gujarat, região oeste, 1,5 mil migrantes bloquearam ruas e destruíram veículos em reação ao cancelamento de duas linhas especiais de trem que deveriam conduzi-los até suas casas.
Outro desafio do lockdown na Índia é a situação das periferias das grandes cidades, conhecidas pela alta densidade populacional. Cerca de 600 milhões de indianos não têm oferta de água suficiente para suas necessidades e 84,7% das residências possuem menos de um cômodo por pessoa, inviabilizando a higiene e o distanciamento físico. Dharavi, a maior favela da Ásia, localizada em Mumbai, costa oeste, registra 1,2 mil casos e 60 mortes por covid-19.
Na capital Nova Delhi, foram liberadas nesta segunda-feira (18) algumas lojas de produtos não essenciais e escritórios com capacidade reduzida, táxis para até dois passageiros e restaurantes com entrega de alimentos no balcão. Metrôs funcionam exclusivamente para funcionários públicos e os setores industriais e de construção civil voltaram a operar, mantendo o distanciamento físico.
Edição: Leandro Melito