Em um mês, os 20 distritos mais pobres da capital paulista registraram aumento médio de 228% nas mortes causadas pela covid-19. Entre esses, apenas Marsilac, no extremo sul da cidade, não teve crescimento superior a 100% nos óbitos em casos suspeitos ou confirmados de coronavírus. Outros 12 distritos tiveram crescimento superior a 200% nas mortes registradas desde o dia 17 de abril. Os distritos com mais mortes são Brasilândia, com 154, na zona norte; Capão Redondo, com 126, Grajaú, com 125, e Jardim Ângela, com 104, na zona sul; Sapopemba, com 131 mortes, e Cidade Tiradentes, com 102, na zona leste. Os dados são da Secretaria Municipal de Saúde.
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Os 20 distritos mais pobres da cidade acumulam 1.558 mortes, das 5.725 mortes ocorridas em toda a cidade, até 14 de maio. Nessa quarta-feira (19), já são quase 6 mil óbitos causadas pela pandemia do novo coronavírus. Também são os que possuem menos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um máximo de oito para cada 100 mil habitantes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 30 para cada 100 mil. Na capital paulista, 60% dos leitos de UTI estão concentrados em três distritos: Sé, Vila Mariana e Pinheiros.
Os moradores da Brasilândia receberam, na segunda-feira (18), 100 mil máscaras de proteção ao contágio pelo coronavírus. A campanha “Máscaras para a Brasilândia” foi lançada pela Rede Brasilândia Solidária e tem como público-alvo as famílias da região que se encontram em condições financeiras de extrema dificuldade. As máscaras estão sendo distribuídas à população pelas 13 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da região.
Já os 20 distritos mais ricos da cidade acumulam aumento médio bem inferior nas mortes, no mesmo período: 161%. Santana é o distrito com o maior número de casos: 72. Um aumento de 157% em 30 dias. Depois vêm Saúde (67), Vila Mariana (60), Santa Cecília (57), Campo Belo, Tatuapé e Perdizes – todos com 47 óbitos.
A capital paulista tem uma taxa de ocupação de UTI de 89%. Alguns hospitais, sobretudo na periferia, já estão em lotação máxima e não recebem novos pacientes. A rede hospitalar municipal tem 1.834 pessoas internadas, sendo 495 em UTI.
:: Condições precárias de moradia dificultam isolamento vertical nas periferias ::
Para o ex-ministro da Saúde e médico sanitarista Arthur Chioro, a situação mostra a consolidação de uma periferização da covid-19. Para ele, o grande desafio agora é conseguir efetivar o isolamento das pessoas contaminadas assintomáticas ou casos leves, que podem ampliar ainda mais a pandemia. “Nesse momento, a inexistência de centros de isolamento para pessoas infectadas, que vivem em situações precárias, poderem ficar esses catorze dias, a semelhança do que foi organizado na favela de Paraisópolis, por exemplo, é gritante”, afirmou.
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Chioro considera urgente a decretação de lockdown em São Paulo, mas sem esses espaços de isolamento, a medida já não seria tão efetiva.
“Se não associar estas medidas de ampliação do isolamento – como o lockdown – com a criação desses centros de isolamento, para as pessoas que vivem em situações precárias, que é imensa maioria da população paulistana, nós não teremos sucesso no controle da transmissão de casos. Porque as pessoas infectadas, mesmo com sintomatologia leve, voltam para suas casas e ficam sendo transmissíveis durante até 14 dias e não têm como fazer isolamento. As situações econômicas, sociais, de moradia, são determinantes tanto quanto o processo de lockdown”, afirmou.