A degradação ambiental, a crise climática e a importância da ciência frente à pandemia nortearam o diálogo sobre a ecologia integral em tempos de coronavírus, parte da programação da semana Laudato si' no Brasil. Promovida pelo Vaticano, a programação conclama a população mundial a uma ampla discussão sobre os cuidados com o planeta. Nesta quarta-feira (20), uma conferência online reuniu o biólogo Átila Iamarino, o cientista brasileiro Carlos Nobre, especializado em clima e Amazônia e o Arcebispo Metropolitano de Manaus, Dom Leonardo Steiner.
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O grupo conversou com o público sobre as profundas ligações entre o desequilíbrio do meio ambiente, causado por ações humanas, e crises como a da covid-19. Carlos Nobre ressaltou que o coronavírus reforça as razões para preservação da Amazônia. Ele explica como as práticas sustentáveis dos povos indígenas, que ocupavam a América antes da colonização, neutralizavam os riscos de que microrganismos saíssem de seus ambientes e migrassem para o corpo humano como patógenos. A degradação ambiental mudou essa dinâmica e aumentou consideravelmente o perigo. Segundo Nobre, todos os elementos para o descontrole já são realidade na floresta, como a expansão da agricultura, a ocupação humana e a destruição do ecossistema.
"Os indígenas tiveram um grande equilíbrio na ocupação humana da Amazônia. Existiu um equilíbrio ecológico. As condições geológicas e climáticas da Amazônia criaram o local ideal para o aumento no número de espécies. É a maior concentração de vida, plantas, animais e microrganismo. Já foram identificados centenas de coronavírus na Amazônia.E há sim endemias que vieram da perturbação da diversidade, mas os indígenas sempre tiveram um equilíbrio. Tanto que a principal ferramenta que os colonizadores usaram para exterminar os indígenas foi levar os patógenos aos indígenas. A história de extermínio dos indígenas, dos amazônicos em particular, é uma história de uma perturbação no seu sistema de saúde."
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O biólogo Átila Iamarino reforçou o paralelo entre a pandemia e a destruição ambiental. Nas palavras dele, “a covid é uma crise ecológica”, fruto da exploração dos recursos naturais, da infraestrutura e do sistema criados pela humanidade, e que traz consequência que afetam mais diretamente os desfavorecidos.
“Nós usamos os recursos naturais para que as pessoas possam conviver com infraestrutura. Nós aceitamos alterar o clima do mundo para que as pessoas tenham tecnologia, ciência e um celular na mão. Agora é a nossa vez de se recolher, de manter o distanciamento, para que as pessoas possam ter esse mesmo tipo de acesso, só que à saúde. E nessa hora as pessoas relutam demais em abrir mão do seu conforto para dar esse acesso à tecnologia e à ciência para todos. Porque agora depende delas e não dos recursos naturais.”
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A ciência como fator fundamental para o combate, tanto à pandemia quanto à destruição ambiental, guiou o debate. O arcebispo Metropolitano de Manaus, Dom Leonardo Steiner, ressaltou que essa importância é explicita no Laudato si', que contou com a contribuição de cientistas do mundo.
“Todas essa questões que nos angustiam têm uma ressonância dentro do Laudato [em referência aos Cântico das Criaturas]. Hoje, talvez o texto seja mais importante do que há cinco anos atrás. Talvez a humanidade só vá acordar depois que experimentar mais a destruição do planeta ou, como o Papa chama, da nossa casa. O texto nos mostra que tudo tem relação. Essa questão de fundo que o texto traz é vital hoje. Porque vem questionar o nosso modo de delapidação, de destruição e de convivência entre nós e a natureza”
A Semana Laudato si' faz parte de uma campanha global que celebra o quinto aniversário da Encíclica, documento assinado pelo Papa Francisco em maio de 2015 e que tem como tema central o “Cuidado com a casa comum”. Com contribuições de especialistas do mundo todo, a carta reúne reflexões para o desenvolvimento e uma consciência ecológica planetária.
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Edição: Luiza Mançano