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Experiência em Trairi (CE) "fertiliza" sucessão de saberes agroecológicos

Ciente dos ensinamentos do pai, João Bosco buscou expandir a produção familiar sem insumos químicos

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Propriedade aproveita o elevado índice de precipitação pluviométrica da região. - Foto: Alexandre Caíque
Ciente dos ensinamentos do pai, João Bosco buscou expandir a produção familiar sem insumos químicos

O município de Trairi, no litoral cearense, se destaca pelo cenário paradisíaco de belas praias e uma imensidão de dunas e coqueiros. São 137 quilômetros de distância da capital Fortaleza e um clima tropical atlântico de quem está praticamente embaixo da linha do equador. É nesse cenário também que encontramos o Sítio Sebastião Portela que produz muito mais que o tradicional coco da região.  

A propriedade de João Bosco Ferreira possui 6 hectares e está localizada no distrito de Canaã. João Bosco produz alimentos para autoconsumo e para comercialização em feira agroecológica de Fortaleza. Ele explica que parte dos princípios da propriedade segue a sabedoria herdada pelo próprio pai dele. João Bosco lembra que desde pequeno ouvia a preocupação do pai em não utilizar insumos químicos pensando na saúde da família. 

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“Meu pai foi uma pessoa muito amorosa. Ele tinha muito amor pela família e não queria trazer nenhum mal para a gente. Ele já entendia que esses produtos poderiam trazer algum mal para a família. Eu aprendi coisas assim, como uma vez eu ainda criança, eu estava com ele embaixo de uma árvore, e eu comecei com uma pedra a bater na raiz daquela árvore, e ele me pediu para parar de fazer aquilo. Então eu falei: pai, é apenas uma árvore. Ele falou: é sim, meu filho, mas uma árvore também sente”, recorda. 


Propriedade contou com consultoria em sistemas agroflorestais. / Foto: Alexandre Caíque

Hoje João Bosco busca cada vez mais se conectar à vegetação. Ele conta que, ao herdar a propriedade, ainda chegou a comprar insumos químicos, mas rapidamente percebeu que este não seria o caminho ideal. Ciente dos ensinamentos do pai dele, buscou ainda mais conhecimentos para diversificar a produção. O desafio não era tão simples devido ao típico solo arenoso de regiões de praia, que geralmente não favorecem a produção de muitas espécies.

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Foi dessa forma que João Bosco estabeleceu parceria com a organização Ecoar, no intuito de ampliar os conhecimentos e práticas na perspectiva agroecológica e da agricultura sintrópica. Alexandre Caique é consultor em sistemas agroflorestais e agroecológicos e conta que, junto a João Bosco, tocou em frente a proposta de produzir hortaliças e frutíferas no Sítio Sebastião Portela. Ele conta que tudo começou com a implantação de sistemas experimentais. 


João Bosco produz diversidade de hortaliças no Sítio Sebastião Portela. / Foto: Alexandre Caíque

“Depois desse primeiro sistema que a gente montou, de dois em dois meses fomos implantando outros sistemas também, baseados nas experiências que já tivemos desses primeiros cultivos e aplicando aos outros, pegando alguns erros e transformando em acertos. Fazendo como uma sucessão de aprendizados, como trabalhamos com sistemas que acompanham sucessão natural, então temos esse impacto positivo no aprendizado, tanto do agricultor quanto da gente que trabalha com isso”, analisa.

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Além de uma diversidade de hortaliças, a propriedade já produz banana e mamão. Em breve, acerola, manga e abacaxi devem também ser acrescentadas na diversidade do local. O Sítio Sebastião Portela se destaca nas redondezas tanto pela diversidade produtiva quanto pela proposta de troca de conhecimentos. Regularmente são realizados mutirões com agricultores e agricultoras agroecológicas das comunidades vizinhas, além de estudantes da Universidade Federal do Ceará. O local também recebe alunos e alunas das escolas de Trairi na proposta de ampliar a perspectiva agroecológica no município.

Edição: Douglas Matos