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Um desenho diferente da festa junina: pandemia mexe na tradição

A lembrança é maravilhosa desse São João bem raiz

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Alguns municípios anunciaram transmissão online de eventos musicais. - Foto: Geyson Magno
A lembrança é maravilhosa desse São João bem raiz

O desenho da Festa de São João está alterado, pelo menos neste atípico ano de 2020. Para quem costumeiramente festeja o período, a chegada do mês de junho está sendo um misto das necessárias adaptações de segurança diante de pandemia com as saudades de edições anteriores da festa. Ir para as ruas e brincar na quadrilha ou dançar forró, por exemplo, está fora de cogitação no cenário de cuidados com o novo coronavírus.

Para se ter uma ideia, a necessidade de controle das contaminações fez com que alguns municípios, inclusive, antecipassem as datas oficiais de Santo Antônio, São João e São Pedro ainda para o mês de maio. Ou seja, a edição de 2020 vai registrar um “zero a zero” até mesmo na velha rivalidade entre a pernambucana Caruaru e a paraibana Campina Grande como a “Cidade do São João”. 


Quadrilhas e outras atividades que causam aglomerações não serão realizadas em 2020. / Foto: Luciano Ferreira/PCR

Permancendo em casa, a secretária-executiva Cíntia Silva já cancelou a costumeira viagem de cem quilômetros entre Recife e Bezerros, no agreste pernambucano, como sempre acontecia neste período do ano. Ela diz que, desde que se “entende por gente” brincou São João nas ruas do interior. Mas neste ano o festejo será em casa, junto ao marido Gian Carlo Lima, preparando comidas de milho e conferindo lives que estão sendo programadas. A expectativa de Cíntia se mistura às memórias, como nas “Noites Brasileiras”, escrita por Zé Dantas e cantada por Luiz Gonzaga.

“As minhas lembranças do São João são daquelas férias tão esperadas do mês junino. De poder ir para lá, encontrar minhas avós, meus primos, ser aquela farra. Além disso, ser toda aquela lembrança da minha avó cozinhando todas aquelas comidas de São João, de milho. A lembrança que ela vendia fogos de artifício e, então a casa estava sempre muito animada, com crianças comprando fogos e a gente brincando junto. A lembrança de dançar uma quadrilha na rua, com os amiguinhos. A lembrança até dos buscapés, que eu morria de medo. Quando começava era uma carreira só. Mas a lembrança é maravilhosa, desse São João bem raiz, do interior. Ele é inesquecível”, recorda. 


Cíntia Silva lembra a infância com fogos de artifícios. / Foto: Paula Fróes/GovBA

Além de inesquecível, essa memória é passada entre gerações pelo Nordeste. O estudante de comunicação Kaká Nascimento mora em Campina Grande (PB) e também está se adaptando ao período anormal de um mês de junho sem festa de São João. Assim como Cíntia, ele também reforça a mensagem da importância de cuidados com a vida diante da pandemia. A imagem do Parque do Povo lotado, no centro de Campina Grande, vai ficar apenas na imaginação. 

“A gente fica triste por saber que isso, possivelmente - e com muita razão - está praticamente impossível de acontecer, uma vez que temos as notícias da OMS [Organização Mundial de Saúde] e tentamos seguir as recomendações para que as pessoas não se aglomerem. Mas esse era um momento em que basicamente se reuniam pessoas de gerações mais novas com pessoas de gerações passadas e existia uma troca cultural muito forte”.

Sem a diversidade junina nas ruas, alguns municípios nordestinos já confirmaram programações online de São João. Quem sabe a rivalidade entre Caruaru e Campina Grande adentre o mundo dos bytes na versão 2020? Por enquanto, resta se adaptar às medidas de segurança e alimentar o saudosismo com da festa.

 

Edição: Douglas Matos