Eles não escondem uma afinidade total com um projeto autoritário
Desde que o maior pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro foi protocolado na Câmara dos Deputados, no dia 21 de maio, já houve ameaça de ministro à estabilidade nacional, divulgação de reunião ministerial recheada de falas, no mínimo, polêmicas, operações da Polícia Federal contra opositores e aliados do governo e ameaça de golpe do filho do presidente, pelo menos até o fechamento deste texto. Isso tudo em meio a uma pandemia, sobre a qual o presidente pouco se pronuncia.
Uma das autoras do pedido de afastamento de Bolsonaro, a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) falou ao Brasil de Fato sobre o que muda no cenário político e quais as condições existentes para o impeachment do presidente e, por outro lado, para um golpe contra a democracia impulsionado pelos aliados ou pelo próprio Bolsonaro. Embora, no caso do atual governo - ao contrário do que aconteceu no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016 - "exista quase um cardápio de crimes de responsabilidade", o presidente "conta com o apoio da maior parte das Forças Armadas, de uma parte importante da elite, inclusive do capital financeiro, e agora tem buscado se aproximar dessa direita que existe no Congresso que se denomina centrão".
Para ela, o vídeo da reunião confirma todas as acusações: "Ele admite, com todas as letras, que busca interferir na Polícia Federal para proteger sua família e seus amigos". O que se viu, continua, junto com as ações recentes do governo, mostra os riscos que o presidente e seus ministros representam para a democracia. "Eles não escondem uma afinidade total com um projeto autoritário", completa. A deputada é a entrevistada desta semana do BdF Entrevista, que vai ao ar toda sexta-feira, às 20h, na TVT.
Natália, que é advogada, mestre em Direito Constitucional e militante feminista e dos direitos humanos, explica que o pedido de impeachment é baseado em três eixos: ataques à democracia e às instituições; atentado à saúde pública durante a pandemia de coronavírus; e a tentativa ilegal de interferência na Polícia Federal.
Além da confissão de interesse em interferir na Polícia Federal feita por Bolsonaro, outro aspecto grave da reunião ministerial de 22 de abril, divulgada no dia 22 de maio, segundo a deputada, é a ausência de um plano ou sequer de um debate sobre o enfrentamento ao coronavírus. "O mais indignante foi que essa reunião estava acontecendo no meio de uma pandemia, enquanto tinha gente morrendo, e ninguém ali se importou com isso", afirma. Por isso, "uma das principais medidas sanitárias que a gente pode ter agora é a retirada desse governo", completa Bonavides.
Questionada sobre os projetos de taxação de grandes fortunas que apresentou na Câmara, Natália Bonavides falou sobre a importância de se realizarem mudanças no sistema tributário, que hoje faz com que "quem é mais pobre pague proporcionalmente muito mais imposto do que quem é mais rico". Ela lembrou que o imposto sobre os mais ricos está previsto na Constituição, mas que nunca foi tirado do papel devido à enorme interferência do poder econômico na política. A deputada acredita, no entanto, que nesse momento "o debate chega em uma dimensão diferente", porque a população está enxergando essa desproporcionalidade no sistema tributário.
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Edição: José Eduardo Bernardes