Coluna

O papagaio, a mula e as assombrações de Zeca

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Ouça o áudio:

No causo de hoje, Mouzar Benedito traz duas mentiras bem contados do seu velho amigo e muito citado na coluna Zeca - Foto: Tim Mossholder/Unsplash
Uma noite escura e fria, com muito vento, eu vinha de viagem e de repente apareceram as assombrações

Já contei aqui uns causos sobre mentirosos, e hoje vou contar duas mentiras de um deles que também já citei, o Zeca que era considerado o maior mentiroso da minha cidade.

Uma delas é sobre uma caçada. O Zeca andava por um pasto que costumava ter umas caças, como codornas, tatus e outros bichos que podia comer, mas nada! Não aparecia bicho nenhum. E ele queria de qualquer jeito uma carne pro almoço.

Ficou bravo e resmungou: “Qualquer coisa que aparecer, agora eu passo fogo... Pode até ser passarinho pequeno”. Acabou de resmungar quando viu um papagaio voando em alta velocidade e pensou: "é ele mesmo que vou matar."

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Mas viu que o papagaio estava voando tão rápido porque era perseguido por um gavião. Então decidiu matar o gavião, que estava quase alcançando o papagaio. Mirou e mandou chumbo. Matou o gavião.

O papagaio continuou voando, deu uma volta, passou perto de um mato no fim do pasto e aí saiu um bando de papagaios voando com ele. Vieram voando alto, mas quando chegaram bem pertinho do caçador, deram um voo rasante sobre ele e todos gritaram de uma vez só:

— Viva o Zeca!

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Na outra historinha, o Zeca começou falando de uma mula muito boa que ele teve. Segue o relato nas palavras dele:

Uma noite escura e fria, com muito vento, eu vinha de uma viagem, doido pra chegar em casa, e de repente, perto da meia-noite, que é quando aparecem as assombrações, veio uma voz tremida como que trazida pelo vento: “ooooiiiiii muuuuiiiiiéééé miiiiinhaaaa....”

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Parou o vento, a voz parou... e voltou falando depressa: “Muié minha oi.” A mula empacou que não dava um passo. Ventou de novo e a voz falou de novo: “oooooiiiiii muuuuiiiiiéééé miiiiinhaaaa... Muié minha oi”

A mula não arredava. Ficou bufando. Mas eu não tenho medo de assombração, resolvi ir ver o que era aquilo. Apeei da mula, peguei minha lanterna e meu facão e fui seguindo aquela voz... Vi que ela saía debaixo de uma moita de espinheiro. Pensei: "será que tem uma alma penada aí?"

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Iluminei o espinheiro com a lanterna, levantei um pedaço dele com meu facão e vi o que estava acontecendo. Tinha um pedaço de disco embaixo da moita, e quando ventava um espinho passava devagarinho numa risca do disco, daí saía a voz “oooooiiiiii muuuuiiiiiéééé miiiiinhaaaaa...” 

Quando o vento parava, o espinho voltava depressa, e falava o contrário: “muié minha oi”.

 

Edição: Lucas Weber