O som do tiro rompe o silêncio. O medo não bate à porta, invade as casas com um fuzil em punho. A fome aperta. Há alguns meses, a luta diária pela sobrevivência nas favelas ganha um novo obstáculo: a covid-19. E o Estado que deveria assegurar direitos básicos, onde está?
Para André Dread, morador da Cidade de Deus, favela localizada na zona Oeste no Rio de Janeiro, e integrante dos coletivos Favela Preta e Frente CDD, a resposta à pergunta é marcada por dor e revolta. “A gente é morador de favela, estamos morrendo todo dia nas comunidades com o Estado que é genocida e entra com ódio, derramando sangue, deixando corpos no chão e estamos cansados disso. Não aguentamos mais”, desabafou.
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A fala do integrante do Favela Preta reflete as motivações que têm levado a população negra e favelada a ocupar às ruas mesmo durante o período de pandemia e isolamento social para reafirmar à sociedade que “vidas negras importam”. Na cidade do Rio já ocorreram duas manifestações, a primeira, no dia 31 de maio, em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, e a segunda, no último domingo (7), na região central. De acordo com Dread, se arriscar durante a crise sanitária acabou sendo necessário "para garantir a sobrevivência".
“A nossa carne é a mais barata, a que eles [o Estado] matam e jogam dentro do caveirão e vão embora, não querem saber se é inocente, se é bandido. É preto, é vagabundo. Estamos conseguindo ter uma resposta dentro desses atos. É importante que tenhamos o nosso momento de fala e não pode ser só agora, isso tem que ser todo o dia”, afirmou o ativista que busca uma unidade em torno da pauta racial.
Ação comunitária
As ações solidárias realizadas por coletivos nas favelas têm amenizado os impactos da covid-19 em territórios empobrecidos. O painel de atualização do coronavírus nas favelas do Rio de Janeiro, iniciativa do jornal Voz das Comunidades, aponta que, até segunda-feira (8), as comunidades cariocas somavam 1.696 moradores infectados e 379 óbitos ocasionados pelo coronavírus. O Complexo da Maré, na zona Norte do Rio, contabiliza o maior número de mortes, 65, até o momento.
Além de auxiliar com doação de cestas básicas, itens de higiene e informação sobre como combater a doença, os integrantes dessas ações levam esperança para moradores.
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“Na nossa luta temos até uma fala que a gente ‘é nós por nós e pelos nossos até o fim’. Estamos arriscando a vida pelos nossos porque o Estado continua ausente, as pessoas não têm da onde tirar. Muitas pessoas, nesse momento, estão esperando o auxílio emergencial, que muitos não conseguem receber por erros. Percebemos que as pessoas estão precisando muito do nosso coletivo”, detalhou Dread.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse e Raquel Júnia