O Mendes entrou já gritando: "sai uma cerveja e duas pingas..."
Bebendo umas e outras dentro de casa, tenho me lembrado de um amigo que era boa companhia nos botecos, o Mendes, um piauiense que foi meu colega de trabalho durante alguns anos.
Bom bebedor, bom papo, grande conhecedor de música popular brasileira das boas, ele era ótima companhia.
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Uma vez fui mandado para passar um mês e meio trabalhando em Pirassununga, no estado de São Paulo, e me ofereceram uma sala dentro da Associação Comercial, para usar nesse período.
Junto à sala, tinha um salão cheio de prateleiras, todas elas cheias de garrafas de cachaça de marca que eu desconhecia. Eram raridades, que o colecionador, presidente da Associação Comercial, dizia serem ótimas.
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Um dia, chamei o zelador e propus:
- A gente podia abrir uma garrafa dessas com muito cuidado, beber o conteúdo dela e colocar uma pinga comum no lugar. Depois tampamos direitinho e colocamos na prateleira de novo. O que acha?
Ele me respondeu:
- Não vale a pena...
Perguntei por quê e ele explicou:
- Teve um colega teu, um tal de Mendes, que ficou aqui uns meses, e já fez isso com tudo quanto é garrafa. Nem sei se ainda tem alguma com cachaça boa.
Fiquei surpreso. Tempos depois, encontrei o Mendes num bar na entrada da Cidade Universitária, em São Paulo, demos risada lembrando disso, conversamos bebericando cachaça e cerveja, até que o dono do bar disse que meia-noite era hora de fechar as portas.
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Serviria só uma cerveja e uma cachaça pra cada um pra encerrar. Bebemos, fomos a um bar próximo, ele estava fechando também. Mas serviu uma cachaça pra cada um e uma cerveja...
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Fomos a outro bar. Mesma coisa. Uma dose para cada um e uma cerveja. Assim fomos “fechando” os botecos da região, até não ter mais nenhum funcionando, de madrugada. Mas vimos a uns 200 metros um estabelecimento com duas portas largas e luz acesa.
Oba!
Trançando as pernas, corremos para lá antes que fechassem. O Mendes entrou já gritando:
- Sai uma cerveja e duas pingas...
O rapaz atrás de um guichê falou:
- Ô, moço, aqui nóis só vende passagem de ônibus.
Era um ponto de parada de ônibus que iam para a região Sul.
Edição: Lucas Weber