A Vila Clara, na zona sul de São Paulo, viveu uma noite de protestos que acabaram com violência policial. Pelas ruas do bairro, moradores, que protestavam contra a morte de Guilherme Silva Guedes, foram perseguidos e agredidos por policiais militares. Parentes e amigos da vítima decidiram convocar outra manifestação para esta terça-feira (16), às 16 horas.
O bairro amanheceu com intensa presença policial e os moradores seguem revoltados com o assassinato do adolescente. “O dia inteiro e principalmente a noite, na região da Vila Clara e Americanópolis [bairro vizinho] foi terrível. Primeiro, mais uma, mais uma, mais uma das milhares de mortes de jovens e a sociedade brasileira considera que podemos ser abatidos, pisados, furados e mortos pela Polícia Militar”, afirma o escritor Allan da Rosa, que chama a atenção para o histórico de violência policial na região. “Ocorre dia e noite.”
::PMs são filmados torturando jovem e ameaçando comunidade em São Paulo::
“Já cabe no imaginário da cidade, no imaginário nacional, há 500 anos, que são pessoas descartáveis, é apenas mais um jovem. Alta probabilidade de que mais um jovem foi sequestrado pela Polícia Militar, por vigias particulares, que são policiais militares, e foi encontrado horas depois, com um tiro na cabeça e um tiro nas mãos”, explica o escritor.
O cineasta Valter Rege, que também vive na região fala sobre o clima no bairro. “Está todo mundo muito chateado, chorando demais. O pessoal que estudava com ele falando o quanto o moleque era gente fina, pegava bicicleta emprestada para conseguir levantar um dinheiro.”
Há 500 anos, que são pessoas descartáveis, é apenas mais um jovem.
Sobre a “terrível noite”, Valter afirma que tinha muita polícia no bairro. Allan narra o que viu durante a operação do Estado na Vila Clara. “A Polícia Militar veio com tudo, varrendo as ruas à noite, pegando mulheres, crianças, jovens que estavam na rua voltando do trabalho, todo mundo apanhou. Chegaram chutando e jogando bombas. Temos áudios e vídeo de pessoas que estavam na porta de suas casas e foram imobilizadas. Foi terrível. Esperamos que não tenha mais notícias de outras tragédias que aconteceram na madrugada. Infelizmente, é mais uma, mais uma ação da Polícia Militar, legado da ditadura, legado histórico de como o governo trata o povo preto e periférico. Isso é só mais uma vez em que um jovem de favela é morto e a sociedade brasileira vai comentar como se tivesse acontecido em qualquer outro lugar, não no nervo dela mesma.”
Entenda o caso
Após Guilherme Silva Guedes ser encontrado morto, na última segunda-feira (15), moradores da Vila Clara saíram às ruas para protestar e ao menos cinco ônibus foram incendiados pela população. A família acusa a Polícia Militar pela morte do adolescente, que teria desaparecido após uma abordagem de policiais no último domingo (14).
Guedes foi visto pela última vez na porta de sua casa. Segundo a família do adolescente, dois homens armados o colocaram em um carro e o levaram. Seu corpo foi encontrado em Diadema, na Grande São Paulo. Ainda de acordo com parentes, em entrevista à Ponte Jornalismo, ao lado do cadáver do adolescente havia um tecido que seria de uma farda de policial militar, onde se lia “SD PM Paulo”.
Indignados, moradores do bairro saíram às ruas do bairro onde Guedes vivia, Vila Clara e começaram o protesto. Durante a manifestação, a população local ateou fogo em ônibus que estavam na avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira. A Polícia Militar agiu e agentes foram flagrados agredindo pessoas nas ruas. Em um vídeo, um homem troca socos com agentes. Em outro, um jovem é agredido por trás, com chutes, por dois policiais militares de motocicleta.
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Em outras imagens, é possível ver moradores virando caçambas de entulho e as arrastando para o meio da rua. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), agentes da Força Tática e da Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicleta (Rocam) foram enviadas ao bairro.
Edição: Rodrigo Chagas