Cidades base para grandes projetos de mineração no Brasil são também polos do novo coronavírus. Nelas há altos índices de contaminação, pouca estrutura hospitalar e evidente descaso com os empregados.
Respaldadas pelo governo federal, as empresas mantêm as atividades e o lucro em alta. Desamparados, os trabalhadores da linha de frente nada podem fazer a não ser que se contaminem e corram risco de morrer.
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Só assim o operador de máquinas Evaldo de Almeida Fidelis, de 36 anos, pode ficar em casa. Ele contraiu o vírus em uma mina controlada pela empresa Vale em Parauapebas, no Pará. Ficou 42 dias afastado para se curar.
“Você não tem como justificar a não ir para o trabalho, a não ser que você esteja contaminado, infectado. Fora isso, você vai alegar o quê? Você tem que trabalhar, você se sente obrigado a prestar esse serviço, até porque o governo federal colocou mineração como atividade essencial”, lamenta.
O trabalhador acabou por infectar toda a família – esposa, filho e mãe. Em três dias, perdeu 10% da capacidade pulmonar e, segundo ele, teve medo de não suportar. “Eu cheguei a pensar que não ia resistir, não”.
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Recuperado, assim como toda a família, Evaldo já foi obrigado a voltar ao trabalho, arriscando-se de novo em uma atividade que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) considera essencial.
“Essencial é a alimentação na mesa do povo, é a saúde, a segurança. Como [o governo] colocou [como essencial], a empresa está respaldada. Qual é a forma do trabalhador se defender? Ele não tem mecanismo jurídico para se defender”, lastima o trabalhador.
Parauapebas é um município no sudoeste paraense, que mantém a mineração como atividade principal desde a década de 1980. É o coração da Serra dos Carajás, onde está a maior jazida de minério de ferro do planeta, controlada pela Vale, que também explora ouro e manganês na região.
De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, obtido com exclusividade pelo Brasil de Fato, até 10 de junho a cidade era a 19ª no país com o maior número de casos da covid-19. Conforme o último balanço da prefeitura, 99 pessoas morreram em decorrência da doença por lá.
Em Canaã dos Carajás, outro município minerário controlado pela Vale e quase vizinho a Parauapebas, a situação chama ainda mais a atenção: foram 1.417 casos confirmados, até 10 de junho, para uma população de 36.027 habitantes – ou seja, quase 4% dos moradores estão contaminados pelo coronavírus.
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Isso quer dizer que o pequeno município paraense tem mais casos registrados do que grandes capitais, como Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis e Goiânia, por exemplo.
Segundo Rafael Avila, presidente licenciado do Sindicato Metabase Inconfidentes, em Minas Gerais, é impossível seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) na atividade minerária.
“Mesmo com protocolos que as empresas estão fazendo, como a Vale, isso não tira o problema da covid-19. Pelo contrário. Isso demonstra, na realidade, que é impossível, com a atividade minerária de conjunto, você controlar o vírus”, declara.
Municípios mineiros como Mariana, Itabira e Ouro Preto também estão em alerta pela covid-19. Somados, os três já somam mais de 1 mil casos confirmados.
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Luiz Paulo Siqueira, da direção nacional do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, ressalta que, para que se extraia o minério, a aglomeração é inevitável.
“A mineração, a forma com que ela funciona, proporciona aglomeração entre os trabalhadores. Os trabalhadores se aglomeram no ponto de ônibus, eles entram no mesmo ônibus, vão dividir cabines de uma mesma máquina. Então, a pessoa infectada trabalha em um turno em uma máquina, numa cabine fechada. Entra um trabalhador no turno seguinte, sem dúvida ele vai estar suscetível a isso risco do contágio com o vírus”, afirma.
O dirigente defende que as empresas suspendam imediatamente o trabalho nas minas, com a condição de que os salários sejam mantidos. “É parar as atividades, mas com a garantia que os empregos sejam garantidos com o pagamento integral dos salários e benefícios, tanto dos trabalhadores diretos e terceirizados”, sugere.
Edição: Leandro Melito