Ainda lembro quando estava na Escola Nacional Florestan Fernandes e, por acaso, encontrei na mesa de doações o livro de Fernando Morais, surrado, com uma dedicatória ininteligível e em versão espanhol. O livro “Os últimos soldados da Guerra Fria” (2011) foi devorado em dois dias e, sem sombra de dúvida, integra a minha lista de melhores leituras.
Fernando Morais já é célebre em transformar a vida real em livros que nos transportam para a história narrada. É como se não estivéssemos mais na nossa cadeira em frente à escrivaninha ou no sofá da sala e as palavras deixam de ser meras linhas escritas. Nos encontramos dentro da história, onde realmente enxergamos cada personagem e cada fato. Foi assim com a história da militante judia que veio parar no Brasil no livro “Olga” (1994) e foi assim com a história dos cubanos infiltrados em grupos de extrema-direita em Miami nos Estados Unidos.
Pois bem, essa é a história da “Red Avispa”, Rede Vespa em português. Nos anos 1990, Cuba era sucessivamente atingida por ataques de grupos de extrema-direita, compostos majoritariamente por cubanos descontentes com a Revolução Cubana, a elite cubana que se debandou para Miami. Tais grupos usavam de métodos como explosão de bombas em pontos turísticos de Havana, soltura de pragas em plantações e sequestro de aviões na ilha caribenha.
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O objetivo era desestabilizar o governo cubano e espantar os turistas, a principal economia do país. Ainda que os ataques não fossem organizados pelo governo dos Estados Unidos, esse fazia vistas grossas. O governo cubano fazia sucessivos relatórios sobre os ataques, inclusive, no livro, descobrimos que até Gabriel García Márquez teve participação numa tentativa de alerta de Cuba ao governo norte-americano.
A saída encontrada, diante do descaso de Washington, foi criar um grupo de agentes, ao estilo Guerra Fria, que se infiltrassem nos grupos anticastristas, com o intuito de evitar e até mesmo preparar o país em caso de novos ataques. O livro começa assim, contando a história de como um dos agentes cubanos sai da ilha e chega na Flórida. A partir daqui, paro com os spoilers, porque a leitura é sensacional!
Assim como “Olga” virou filme, a história real espetacular dos agentes que assumem outra identidade chega na tela dos cinemas ou, em épocas de pandemia e streaming, chega na tela da Netflix. O filme, que leva o nome de “Wasp Network: Rede de Espiões” (2019) já era aguardado há um bom tempo. Alguns sortudos puderam assistir na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, no ano passado, e finalmente estreia na Netflix na sexta-feira (19). A direção é do parisiense Olivier Assayas numa produção entre França, Brasil, Espanha e Bélgica.
E o elenco é de tirar o fôlego! Penélope Cruz, Edgar Ramíres, Gael García Bernal, Wagner Moura e Ana de Armas, a cubana que protagonizou o filme “Sérgio”, também da Netflix, com o nosso brasileiro Wagner Moura. Para quem já está muito ansioso como eu, o trailer já está rodando nas redes.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira e Raquel Júnia