O reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa Epicovid, que mapeia a velocidade de contágio e propõe estratégias para o enfrentamento da doença, destaca que a curva de contaminações já deveria ter entrado em declínio, pois já se passaram 17 semanas desde o registro do primeiro caso.
Mas não é o que a realidade revela. O número de infectados e de mortes se multiplica a cada dia e projeta o colapso do sistema de saúde ainda em junho.
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Até às 8h desta terça-feira (16), de acordo com o consórcio de veículos de imprensa (G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL) que passou a fazer a atualização diária das informações enviadas pelas secretarias estaduais de saúde diante da omissão de informações pelo Ministério da Saúde, o total de mortes atingiu 44.148 e quase 900 mil infectados.
“A solução neste momento é fechar as portas do país por 15 dias para forçar a curva a entrar em uma trajetória descendente”, aponta Pedro Hallal.
O reitor disse que levará essa proposta de estratégia extrema de controle ao Ministério da Saúde, em uma reunião na próxima quinta-feira, 18.
Fase aguda de contágio
Em entrevista ao jornal Diário Popular, de Pelotas, nesta terça, Hallal afirmou que o governo vem optando por uma política kamikaze no enfrentamento da pandemia e, caso não adote medidas efetivas contra a Covid-19, “empurra o pico para cima”, prolongando a fase aguda do contágio por um prazo indefinido. “O Brasil resolveu desafiar o vírus”, alerta Hallal.
Em países como Espanha, Itália e Estados Unidos, após entrar em declínio, o vírus entrou em um período de saturação e a curva de transmissão não voltou a subir. A tendência mundial, segundo o reitor, é de recuo do contágio a partir da 13ª semana de circulação desde que sejam adotadas medidas de confinamento da população.
“Não foi o que ocorreu no Brasil e está longe de acontecer. E por quê? Por aqui, no momento em que o cerco deveria ter ficado ainda mais apertado – em função de o contágio estar em alta –, os governos passaram a flexibilizar e cada vez menos pessoas mantêm o isolamento social”, explica. O Brasil “alimenta uma equação desastrosa”, segundo ele, em que há mais pessoas contaminadas enquanto cresce o número de suscetíveis ao contágio nas ruas.
Esse cenário, adverte, é favorável a surtos de infecção fora de controle. “O Brasil tem um monte de infectados e um monte de suscetíveis e os está colocando para se encontrar no meio da rua”, compara. “A gente tá dando pessoas de bandeja pro vírus infectar. É isso”. Daí a sua aposta em 15 dias de isolamento total (lockdown).
Proporção de infectados aumentou em 53% em duas semanas
A pesquisa Epicovid19-BR, que estima a proporção de casos de infecção por coronavírus no Brasil, inicia nova etapa a partir de domingo, 21, com a meta de realizar 33.250 testes rápidos e entrevistas em 133 cidades de todos os estados do país.
Cerca de 2,6 mil pesquisadores do Ibope Inteligência vão às ruas, nos dias 21, 22 e 23 de junho, para visitar residências e convidar 250 moradores a realizar testes rápidos para o coronavírus em cada uma das cidades incluídas na pesquisa.
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“É fundamental que a população aceite participar da pesquisa”, diz a epidemiologista Mariângela Freitas da Silveira, integrante da coordenação do estudo. Em cada cidade, por exemplo, é preciso realizar pelo menos duzentos testes, para que possamos apresentar estimativas sobre a real dimensão da Covid-19. “Além de contribuir com o esforço coletivo de enfrentamento da pandemia, o participante tem a oportunidade de realizar o exame e saber o resultado na hora”, observa.
Velocidade e expansão
O Estudo de Prevalência da Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid19-BR), coordenado pela UFPel com financiamento do Ministério da Saúde, é o maior levantamento populacional do mundo a estimar a prevalência de covid-19. A segunda etapa da pesquisa apresentou evidências inéditas sobre a velocidade de expansão do coronavírus em 83 cidades do país.
A proporção de pessoas que já contraíram o vírus no Brasil aumentou em 53% no período de duas semanas entre a primeira etapa, realizada de 19 a 21 de maio, e a segunda, de 4 a 5 de junho. Os dados mais recentes também mostram que, para cada diagnóstico confirmado, existem ao redor de seis casos reais não notificados na população.
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Para se ter uma ideia, as estimativas somam mais de 1,7 milhão de pessoas que têm ou já tiveram o coronavírus, contra o total de 296.305 casos notificados em 120 cidades brasileiras na véspera do segundo levantamento da pesquisa.
O estudo inclui a cidade mais populosa de cada uma das 133 sub-regiões definidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o território brasileiro. A seleção das residências e das pessoas que serão entrevistadas e testadas ocorre por meio de um sorteio aleatório, utilizando os setores censitários do IBGE como base.
Para o exame, os pesquisadores coletam uma gota de sangue da ponta do dedo do participante, que será analisada pelo aparelho de teste em aproximadamente 15 minutos.
Enquanto aguarda o resultado, o participante responde a perguntas sobre sintomas da covid-19 nas últimas semanas, busca por assistência médica e rotina em relação às medidas de prevenção e isolamento social. Em caso de resultado positivo, os profissionais comunicam a Vigilância Epidemiológica local
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Extra Classe