O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado como contraponto a outro indicador muito utilizado, sobretudo na área econômica, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita. A diferença é que o IDH não considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento, tendo sido incorporados outros fatores em seu cálculo, como pilares principais: saúde, educação e renda.
Desde 1990, são lançados Relatórios de Desenvolvimento Humano anuais pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em maio deste ano, a instituição lançou um pré-relatório intitulado “Covid-19 e Desenvolvimento Humano: Avaliando a crise, prevendo a recuperação”, alertando para o triplo impacto da pandemia da covid-19 nos padrões mundiais de saúde, educação e renda, podendo o IDH recuar pela primeira vez em 30 anos.
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Mesmo crises econômicas que desencadearam recessões em vários países, como a crise financeira de 2008, ou catástrofes ambientais como o Furacão Maria que atingiu Porto Rico em 2017, ou crises de saúde pública, como o surto de ebola que se espalhou pelo leste da África entre 2014 e 2016, não impediram os ganhos de desenvolvimento acumulados anualmente.
O número global de óbitos por covid-19 ultrapassou 300 mil registros e áreas fundamentais para o desenvolvimento humano, mesmo em países ricos, enfrentam quedas drásticas. O documento aponta que a renda per capita mundial deve recuar em quatro por cento, enquanto o fechamento das escolas e a porcentagem de crianças em idade escolar primária sem acesso à internet indicam que 60% das crianças não estão recebendo educação formal, o que puxa os níveis globais para patamares de desenvolvimento vigentes na década de 1980.
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A combinação de impactos, seja os que já existiam antes da covid-19 e acelerados por ela como os impactos inéditos, pode representar a maior regressão no desenvolvimento humano já registrada. E isso sem contar questões como equidade de gênero, violência doméstica, saúde reprodutiva e trabalho informal ou não remunerado.
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Os impactos no desenvolvimento humano deverão ser maiores em países em desenvolvimento, menos capazes de lidar com os desafios e consequências da pandemia. Estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indicam que, nesses países, 86% das crianças no ensino fundamental estão sem receber nenhum tipo de educação formal, enquanto nos países com alto IDH esse número é de 20%.
Uma das simulações apresentadas no pré-relatório mostra que a promoção de maior igualdade nas capacidades de acesso, como o digital, pode amenizar o declínio no indicador da educação. Em 2018, foi estimado em 100 bilhões de dólares o investimento necessário para fechar a lacuna no acesso à Internet em países de baixa a média renda, cerca de 1% dos programas de apoio fiscal anunciados em todo o mundo voltados para respostas à covid-19 até a publicação do documento.
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Ações como essa fazem parte das “novas necessidades” do século XXI, onde tele-educação, telemedicina e “home office”, ou trabalho em casa, tornam-se palavras cada vez mais repetidas.
Para Pedro Conceição, Diretor do Gabinete de Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, “a importância da equidade é enfatizada na estrutura das Nações Unidas para a resposta socioeconômica imediata à crise do covid-19, que estabelece uma linha de base verde, com igualdade de gênero e boa governança, a partir da qual se possa construir um ‘novo normal’.”
Em relação à saúde, o diretor afirma que o impacto não recai apenas nas pessoas atingidas pelo vírus, mas nas pressões nos sistemas de saúde em todo o mundo que afetam a prestação desses serviços, inclusive nas taxas de imunização e vacinação em crianças.
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“Há um estudo que nós citamos no nosso relatório que prevê que pode haver, nos próximos seis meses, um aumento do número de mortalidade infantil de seis mil mortes que podiam ser prevenidas com intervenções de saúde, como resultado desses efeitos secundários. Portanto, há um choque grande que está a ocorrer nos indicadores que têm a ver com a saúde” diz.
Pedro Conceição recomenda cinco etapas prioritárias para um enfrentamento ao nível de complexidade da crise atual: proteção dos sistemas e serviços de saúde; aumento à proteção salarial; proteção dos empregos, das pequenas e médias empresas e dos trabalhadores do setor informal; políticas macroeconômicas que funcionem para todos; e, por fim, promoção da paz, da boa governança e da confiança para a construção da coesão social.
Sobre o IDH
Criado pelo economista Mahbub ul Haq, com colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH foi publicado pela primeira vez em 1990 e, a partir de então, é recalculado anualmente em uma série histórica.
De acordo com o PNUD Brasil, o índice possui o mérito de sintetizar a compreensão do tema e fomentar o debate, porém “não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da ‘felicidade’ das pessoas, nem indica ‘o melhor lugar no mundo para se viver’. Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH.”
Fonte: BdF Ceará
Edição: Monyse Ravena e Raquel Júnia