O número de casos de covid-19 registrados no Brasil ultrapassou a marca de um milhão, com crescimento recorde nas confirmações em 24 horas. Entre quinta (18) e sexta-feira (19), foram reportados 54.771 novos casos.
O Ministério da Saúde de afirma que o recorde tem origem em dados não reportados anteriormente pelos estados e que se acumularam. No entanto, mesmo que fossem distribuídos pelos outros dias da semana, os novos casos se somariam a números que já eram alarmantes.
Na quinta-feira (18), foram registrados mais de 22 mil novos casos. Na quarta (17), mais de 32 mil. No dia anterior, terça-feira (16) os registros ficaram acima de 34 mil.
Brasil tem um milhão de infectados pela covid-19 e mais de 50 mil registros em um dia
Com avanço que não demonstra diminuição na velocidade, o número de mortes está próximo a 50 mil. Por quatro dias seguidos nesta semana, o país registrou mais de 1.200 óbitos em 24 horas.
A taxa de letalidade do país é chega a 4,7%. Em alguns estados, o índice é bem mais crítico. O Rio de Janeiro tem letalidade acima de 9%. Em Pernambuco a porcentagem é superior a 8%.
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Os números parecem não corroborar afirmações de que a pandemia se estabiliza no Brasil. O argumento é usado por governos estaduais, junto com as taxas de ocupação de UTIS, para justificar planos de abertura do comércio e relaxamento do isolamento social.
O governo federal também afirma que há uma estabilização no horizonte. Representantes da Organização Mundial da Saúde chegaram a afirmar que o país poderia estar caminhando para uma estabilização, mas ressaltou que o risco de que o cenário piore de uma hora para outra é grande sem o distanciamento.
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Em conversa para o boletim A Covid na Semana, do Brasil de Fato, o médico de família, Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares, afirma que os números atuais não permitem nenhuma expectativa de que o cenário negativo diminua. (Ouça o boletim na íntegra no áudio abaixo do título desta matéria)
Que estabilização é essa? Foram dias com mais de mil e 200 mortes no Brasil. Quando eles falam em estabilização, falam de uma manutenção de um patamar de casos e mortes que é altíssimo.
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Os impactos do relaxamento de medidas de isolamento já parecem estar sendo sentidos em alguns estados. Em São Paulo, em meio a um plano de abertura por etapas, foram registrados recordes por dois dias consecutivos. A região tem o maior número de casos e óbitos do país. Enquanto o plano de retomada de atividades prossegue, o interior vê o vírus se alastrar.
A ocupação de leitos de UTI em Campinas e Piracicaba, por exemplo, subiu 104% e 127% respectivamente em sete dias. Nas duas regiões, está autorizada a abertura de shoppings, comércio de rua, escritórios e concessionárias.
A prefeitura de Campinas já voltou atrás e deve anunciar fechamento completo do comércio novamente a partir de segunda-feira (22). Na sexta-feira (19), o governo do estado anunciou que as regiões de Marília e Registro, também terão que voltar ao estágio mais rígido de isolamento.
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Em Minas Gerais, a ocupação de leitos de UTI subiu de 72% para 88% em um dia. O governo do estado incentiva os municípios a implementarem o isolamento pelo programa Minas Consciente, mas entre mais de 800 cidades, menos de 200 aderiram.
A gestão estadual prevê estrangulamento do sistema de saúde em cerca de um mês. Há um protocolo de isolamento total em elaboração , que atingiria municípios de maneiras diferentes caso colocado em prática, a depender dos números de cada cidade.
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No caso da capital BH, o protocolo de retomada de atividades econômicas não vai avançar. Na sexta-feira (19), a prefeitura informou que não vai seguir com a flexibilização, em vigor desde 25 de maio. Shoppings, comércios de rua, bares e restaurantes continuam fechados. A possibilidade de fechamento total das atividades com o "lockdown" não está descartada.
Mundo em alerta
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que a comunidade global está frente a uma fase perigosa da pandemia. A aceleração, principalmente no continente americano, impulsiona os números mundiais e emperra as tentativas de controle. A África e o sudeste da Ásia também preocupam
“O mundo está em uma nova e perigosa fase. Muita gente está cansada de ficar em casa. Os países estão ansiosos para abrir suas sociedades e suas economias. Mas o vírus continua a se disseminar rapidamente, ainda é mortal e a maior parte das pessoas ainda é vulnerável."
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Na quarta-feira (17), mais de 170 mil casos foram reportados mundialmente, patamar recorde para 24 horas. O planeta tem hoje mais de 8 milhões e 500 mil casos. Há mais de um mês que os registros globais ultrapassam a marca de 100 mil todos os dias.
Gestão Bolsonaro insiste na cloroquina
No início da semana, o Ministério da Saúde informou que vai passar a orientar o uso da cloroquina para mulheres grávidas e crianças. O medicamento não tem eficácia comprovada contra a covid-19, mas foi eleito pelo governo de Jair Bolsonaro como uma das principais armas para a cura da doença.
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A recomendação do Ministério ocorreu pouco mais de duas semanas após uma nota de alerta divulgada pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo o texto, “não há dados que amparem a segurança e a eficácia do uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em crianças.”
O documento alerta também que o uso destas drogas para o tratamento da covid-19 é baseado um número pequeno de relatos que não permitiram resultados conclusivos, “alguns deles interrompidos devido ao aumento da mortalidade em decorrência do uso de altas doses.”
Médicos contestam decisão do governo de usar cloroquina em crianças e gestantes
Usada para tratamento de doenças como malária, lúpus e artritre reumatoide, a cloroquina pode causar arritmias cardíacas, o que aumenta as chances de o pacientes sofrer morte subida. A Organização Mundial da Saúde não indica o uso para tratamento da covid-19 e a FDA, agência que faz o controle de medicamentos nos Estados Unidos, revogou a permissão para administração da em pacientes infectados pelo coronavírus.
Em nota a instituição afirmou que "não é razoável acreditar que os fatores conhecidos e os potenciais benefícios desses produtos superem seus riscos conhecidos e potenciais.”
Corticoide tem sucesso em pacientes graves
Cientistas da universidade britânica de Oxford divulgaram, também nesta semana, os resultados preliminares de um estudo sobre o tratamento da covid-19 e anunciaram resultados positivos nos testes de um corticoide comum no combate dos casos graves da doença.
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O estudo chamado Recovery comparou 2 mil pacientes que receberam o medicamento com o outros 4,3 mil que receberam os cuidados de praxe e constatou redução do risco de morte de 40% para 28% para pacientes que estavam em aparelhos respiradores. O remédio mostrou resultados positivos, no entanto, somente para os casos graves.
O que é coronavírus
É uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos, os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a síndrome respiratório do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a síndrome respiratória aguda severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.
Como ajudar quem precisa?
A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação.
Edição: Douglas Matos