Quando chegou ao Brasil em 2014, vindo da Palestina, Mouhammad Othman não sabia muito bem o que ia fazer da vida. Começou a vender comida na rua. Hoje tem um restaurante no Centro de São Paulo, que ganhou forma 4 anos depois. No cardápio, culinária árabe e receitas de família. Nas paredes, referências culturais, artísticas e políticas da terra natal. A pandemia do coronavírus impôs agora um novo desafio a quem atravessou o mundo e soube compreender uma nova realidade.
“Eu sou refugiado desde que nasci. Eu nasci num campo de refugiados. Meu pai é refugiado, minha avó também. Quando a gente abriu o restaurante, foi a primeira ideia que tive. Uma coisa o brasileiro gosta: de ver a nossa cultura, tradição. E quando você mostra sua cultura, a luta, a comida mesmo, vira política sem querer”.
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O restaurante agora está engajado num projeto de doação de cestas básicas. Elas vão para famílias de africanos e latino-americanos que ainda não conseguiram a condição de refugiados aqui no Brasil. A esposa de Mouhammad, a brasileira Helena Othman, acolheu a causa.
“A maior parte das pessoas perdeu o seu trabalho nesse contexto, e de fato algumas não têm ainda a situação migratória regularizada, ainda está no processo, acabou perdendo o trabalho e está tendo dificuldade para acessar serviços públicos de saúde, auxílio emergencial e outras políticas de assistência. Ou seja: são pessoas que passaram a depender quase que exclusivamente de ações solidárias”.
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Dados da Agência da Onu para Refugiados, o Acnur, mostram que quase 10 milhões de pessoas tiveram de deixar suas casas por conta de conflitos ou perseguições em 2019. No que se refere especificamente aos refugiados, foram 4 milhões de pessoas forçadas a abandonar os países de origem, a cruzar fronteiras e a enfrentar o desafio de recomeçar em um novo lugar.
Com isso, em 2019, o mundo somava quase 80 milhões de pessoas no chamado deslocamento forçado, um número sem precedentes e motivado principalmente pelos conflitos na República Democrática do Congo, na Síria e também na vizinha Venezuela. E nesse último caso, muitos têm como destino o brasil. É o que explica o assessor de Informação Publica do Acnur, Miguel Pachioni.
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“O Brasil não faz parte do top 10 do país que mais acolhe pessoas, mas o processo de reconhecimento de pedidos fez com que o Brasil, nos últimos meses, tenha tido destaque em relação às 43 mil pessoas reconhecidas no território nacional como refugiados. Isso faz com que o Brasil, dentro da América Latina, seja o principal país de acolhida recente de pessoas e reconhecimento delas enquanto refugiadas”.
Hoje, o Brasil abriga 43 mil refugiados, mas 300 mil solicitações ainda estão na fila, aguardando análise, o que mostra a dimensão desse problema global.