Trabalhadores do banco Santander Brasil vêm realizando manifestações por todo o País desde o dia 15 de junho. Os funcionários reclamam da cobrança de metas, que classificam como abusivas, e das demissões realizadas durante a pandemia de covid-19. Também foi organizado um “tuitaço” com a hashtag #SantanderRespeiteOBrasil, além de projeções gráficas nos prédios das cidades.
A instituição firmou um acordo público no início da pandemia se comprometendo a não demitir durante a crise sanitária. Ao jornal Folha de S. Paulo, no entanto, integrantes da alta gestão do banco anteciparam a projeção de corte de 20% do quadro de funcionários. Com cerca de 47 mil funcionários, uma redução desse calibre representaria quase 10 mil novos desempregados.
Em nota enviada ao Brasil de Fato, o Santander afirmou que o compromisso de não realizar demissões foi estabelecido até o fim de maio. Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), entretanto, nega que houve a fixação de um prazo.
"O compromisso do banco era não demitir durante a pandemia. Tem vídeo, entrevista da direção executiva do banco falando isso. Nós estamos no auge da pandemia, como é que pode dizer que acabou?”, pergunta Moreira.
Tanto o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região como o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro confirmam que já ocorreram demissões no período. Até o começo de junho, pelo menos 15 desligamentos foram registrados somente em São Paulo. Ainda segundo a nota do Santander, os desligamentos aconteceram por baixo desempenho dos funcionários.
“Como parte da gestão de qualquer negócio, a liderança do Banco iniciou um processo de reavaliação do nível de produtividade de suas equipes, que deve ser contínuo em uma empresa que busca manter o melhor nível de eficiência da indústria. (...) A meritocracia é um dos grandes valores da instituição e é o filtro que pauta qualquer medida na esfera de gestão do nosso capital humano”, afirmou a instituição, em nota.
Para Adriana Nalesso, presidente do sindicato carioca, o banco começou a demitir "numa estratégia 'conta-gotas', tentando não chamar a atenção da opinião pública. Usando como justificativa um desempenho insuficiente – que é medido por metas que, se já eram excessivas antes da pandemia, agora tornaram-se irreais”. Entre as novas metas, funcionários denunciam o programa Sou 40, que prevê a venda de 40 produtos em 10 dias.
Moreira classifica essas novas exigências como “um negócio muito absurdo. É cobrança de meta quando o Brasil inteiro está com problema da pandemia. Como é que vou vender um seguro, uma capitalização, fazer uma alteração, um investimento, se muitos dos clientes estão precisando do dinheiro?”, questiona .
Ela afirma que as medidas do Santander refletem uma “falta de compromisso com o Brasil”, país responsável por 29% do lucro do banco no âmbito mundial, no primeiro trimestre de 2020, de acordo com o último balanço da instituição.“Mais do que nunca, o Brasil está respondendo por grande parte do lucro do grupo no mundo, e o compromisso que (este) tem com o País é demitir, cobrar metas.”
A presidenta da Contraf lembra que os bancos “foram os primeiros a serem socorridos” diante da pandemia de covid-19. Logo após a fixação das medidas de isolamento social, no dia 23 de março, o Banco Central anunciou a disponibilização de R$ 1,216 trilhão para os bancos brasileiros, o equivalente a 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor é expressivamente superior ao disponibilizado durante a crise econômica global de 2008, cerca de R$ 117 bilhões, ou 3,5% do PIB.
Na contramão, a Instituição Fiscal Independente (IFI) estimou que o custo para o governo seria de apenas R$ 154,4 bilhões para o pagamento do auxílio emergencial a quase 80 milhões de brasileiros entre abril e junho.
De acordo com o sindicato carioca, no ano de 2019, o Santander Brasil apresentou um lucro de R$ 14,5 bilhões. No primeiro trimestre deste ano, o lucro foi de R$ 3,774 bilhões, o que representou um aumento de 10,5% em comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 3,415 bilhões). Em relação ao último trimestre de 2019, o crescimento foi de 0,7% (R$ 3,748 bilhões).
No início da pandemia, o presidente do banco Santander no Brasil, Sergio Rial, comparou a quarentena e home office a “deserção”, de acordo com funcionários da empresa. Em um comunicado, destacou “o cuidado necessário que cada um deve ter com absenteísmo” no trabalho.
Edição: Rodrigo Durão Coelho