Quando a gente valoriza a velhice, valoriza a vida
O Brasil tem oficialmente 1.106.470 infectados pela covid-19 e 51.271 mortes causadas pela doença, de acordo com dados do Conselho Nacional das Secretarias de Saúde, divulgados nesta segunda-feira (22).
Do número de óbitos em decorrência da covid, a maioria é referente aos idosos, um dos grupos de risco na atual pandemia, segundo Daniel Groisman, professor e pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz).
De acordo com o docente, o principal fator de risco é a fragilidade dos idosos em relação às doenças respiratórias. Não à toa, esse é o público-alvo de campanhas de vacinação contra diversos tipos de gripe.
Mas não é só isso. Outros pontos como “condições de vida, acesso aos serviços de saúde, inclusive nas questões específicas do envelhecimento” também são apontados por ele como essenciais quando o assunto é a população idosa.
Nesse sentido, Groisman defende que a saúde de uma pessoa idosa hoje é consequência de como lhe foram empregados os cuidados médicos e sanitários durante toda a vida.
“É importante lembrar que as condições de saúde de uma pessoa na sua velhice são de certa forma uma consequência de como essa pessoa pôde cuidar da sua saúde ao longo da sua vida inteira”. Isso aponta um caminho para os gestores de saúde: promover a saúde das pessoas idosas implica em promover a saúde das gerações mais jovens.
Outro aspecto do momento atual: as condições de saúde dos idosos hoje, em meio à pandemia do novo coronavírus também levam à constatação de outras dimensões da vida dessa população.
Segundo o especialista, os idosos que estão há meses em situação de isolamento podem vir a padecer de uma série de consequências que têm a ver com “a falta de estímulo social, a questão da saúde mental, dado que nós somos seres sociais e necessitamos nos relacionar e ter uma vida em sociedade”.
“Além disso, a gente não pode ignorar o componente econômico. Muitos idosos necessitam trabalhar para suprir essas necessidades básicas ou porque não conseguiram se aposentar, e cada vez está mais difícil a aposentadoria, ainda mais depois da Reforma da Previdência, ou porque o valor da aposentadoria é insuficiente para garantir a sua subsistência em um nível digno”, afirma Groisman.
Diante desse cenário, o professor defende que o Sistema Único de Saúde deve expandir a capacidade de atendimento em variados aspectos da vida, incluindo saúde mental e física.
Para Groisman, é preciso “tentar levar o atendimento para mais perto das pessoas, no sentido de ter mais recursos de atendimento e cuidado domiciliar, serviços intermediários de cuidado, ampliar a capacidade da atenção básica, que é a porta de entrada do sistema”.
Ao retratar o cuidado com os idosos como sinônimo de cuidado com a vida, o professor relembra uma frase da escritora Simone de Beauvoir, que afirmou que “viver é envelhecer” e complementa: “Quando a gente valoriza a velhice, a gente está valorizando a vida”.
Edição: Leandro Melito