Um servidor do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) com sintomas da covid-19 está impedido de sair de um hotel de beira de estrada no interior da Amazônia para procurar ajuda médica em uma cidade grande.
Ele participava da operação GLO (Garantia de Lei e Ordem) em Apuí (AM), uma cidade com 21 mil habitantes, distante 12 horas de estrada de um centro médico com maior capacidade de atendimento, em Porto Velho (RO).
O Brasil de Fato ouviu relatos de servidores, que não podem se identificar por insegurança, para saber em que situação o servidor está.
Segundo contam, o servidor sentiu febre e dor de cabeça desde a segunda-feira (22), avisou a direção do instituto, em Brasília, que desconfiava ter contraído o coronavírus e precisava ser testado e tratado.
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Havia um helicóptero do Ibama na cidade, utilizado para a missão, que foi retirado ontem de lá. O servidor pediu autorização para ser levado por via aérea até um hospital da capital rondoniense. Da Direção de Proteção, em Brasília, ele ouviu um não.
Ainda conforme os relatos, ele passou todos os últimos dias voando junto aos servidores que utilizam o helicóptero (e que fariam o transporte) – ou seja, o argumento da possibilidade de contaminação, neste caso, é falho, já que o contato já houve.
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A ordem é para que ele fique 14 dias isolado no hotel – que ele buscou por conta própria -, até que seja liberado para voltar para casa, em Fortaleza, no Ceará, longe a mais de 3 mil quilômetros.
Além do medo de que os sintomas possam se agravar, o servidor também convive com ameaças de moradores na pequena cidade em que está isolado. Conforme a reportagem ouviu, o Ibama já tinha sido avisado de que os locais não querem fiscais por lá.
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Na sexta-feira (26), a equipe do Ibama que está em missão na região vai embora do lugar. Sozinho, o servidor tenta se virar para ao menos descobrir se tem covid ou não.
A Associação Nacional dos Servidores de Meio Ambiente (Ascema Nacional) divulgou nota, nesta quinta-feira (25), exigindo providências e garantias de segurança ao servidor. No comunicado, destaca-se que uma carta foi enviada diretamente ao presidente do Ibama, Eduardo Bim, denunciando o descaso do órgão em relação a seus funcionários.
Procurado pelo Brasil de Fato, o Ibama afirmou, em nota, que "disponibilizou a realização do teste de covid-19 e ambulância para realizar a transferência do servidor para Porto Velho (RO), ambos recusados pelo fiscal. As medidas cabíveis para remoção e cuidados estão sendo tomadas".
Edição: Leandro Melito