A greve nacional dos entregadores de aplicativos acontece em todo o Brasil por melhores condições de trabalho, nesta quarta-feira (1). Entre as principais pautas dos grevistas, estão o aumento do valor mínimo das corridas e da remuneração por quilômetro rodado, seguro de vida que inclua cobertura de roubos e acidentes, sala de apoio para aguardar os chamados dos aplicativos, além do fornecimento pelas empresas, de equipamentos de proteção individual contra o coronavírus .
“Atualmente precisamos rodar 10 a 12 horas para fazer setenta reais no dia. A remuneração caiu justamente no momento em que temos mais trabalho”, conta Douglas*, entregador de aplicativo em Curitiba (PR) que aderiu ao movimento grevista.
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Durante a paralisação na capital do Paraná, houve manifestação de motoboys e cicloentregadores pelas ruas centrais da cidade. O movimento pede apoio da população para que nesta quarta (1º), não haja entregas via aplicativos. O objetivo é para que as empresas, tendo menor número de pedidos, se sensibilizem com o movimento e as reivindicações.
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''Tive que pagar pela entrega não feita''
Em entrevista ao Programa Quarta Sindical, promovido pela CUT Paraná e Brasil de Fato PR, Douglas e o estudante e membro da União Paranaense de Estudantes (Upes), Lucas Zullim, ambos entregadores que participam e apoiam a greve, descreveram a dura realidade de um trabalho cada vez mais precarizado.
Eles relatam diversas dificuldades enfrentadas pela categoria, tais como, casos de acidentes de trabalho em que as empresa não assumem os custos do atendimento médico, falta de estrutura, como ausência de sinal de internet para a conclusão das entregas – com o entregador tendo que acabar arcando com os custos caso a entrega não seja finalizada no app.
Acionei o suporte da empresa e eles falaram que não podiam fazer nada e bloquearam meus pedidos. Ou seja, o empregado que resolva.
Sem contar o excessivo peso nas costas, e muitas vezes, fome o dia inteiro. De acordo com os dois, estes são alguns dos problemas recorrentes mas ignorados pelas empresas. Atualmente, os serviços de entrega integram o rol de atividades essenciais durante a pandemia de covid-19.
“Em 2018, durante uma entrega, sofri um acidente e minha bicicleta quebrou. Acionei o suporte da empresa e eles falaram que não podiam fazer nada e bloquearam meus pedidos. Ou seja, o empregado que resolva", relata Zulim, que se tornou entregador aos 17 anos para pagar a faculdade.
Ele critica o discurso que os coloca como autônomos ou sócios da empresa. “Fazem este discurso, mas na verdade é que não temos vínculo empregatício e nenhum suporte. Com as empresas lucrando em cima da gente.” Já Douglas, conta outro episódio, onde ficou sem internet e teve que pagar pela entrega. “As empresas não pagam serviço de internet para nós. Eu fiquei sem e não achei o endereço. Tive que pagar a entrega não feita''.
Pandemia: mais entregas, menor remuneração
Durante a pandemia, além da piora nas condições de trabalho já tão precarizadas, a remuneração caiu. A piora das condições de trabalho de entregadores de aplicativos durante a pandemia é constatada em pesquisa da Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir), a partir de projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Mais de 57% afirmaram trabalhar acima de nove horas diárias, percentual que ampliou para 62% durante a pandemia. A jornada de 78,1% dos entregadores é de seis a sete dias por semana. Para os trabalhadores, o aumento da jornada está relacionado a novas contratações durante a pandemia, provocando a redução das chamadas para entregas. Dessa forma, os entregadores passaram a trabalhar mais horas para manter a remuneração.
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Levantamento feito por pesquisadores do grupo de pesquisa Clínica Direito do Trabalho da UFPR mostra que no ano passado havia cerca de 5 mil entregadores por aplicativos em Curitiba e região metropolitana. De acordo com o grupo, durante a pandemia, uma empresa contratou cerca de 2 mil entregadores em Curitiba.
O estudo mostra ainda que maioria dos entregadores (58,9%) teve queda remuneratória. Antes da pandemia, havia uma concentração nos rendimentos semanais entre R$ 261 e R$ 650, com renda maior chegando a mais de R$ 1.041 por semana. O número de trabalhadores inseridos nessas faixas de remuneração maiores reduziu para quase um terço.
*A entrevista com Douglas foi feita na condição de anonimato.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Rodrigo Chagas e Gabriel Carriconde