Temos centenas, milhares de histórias sobre Lampião, e são muito do imaginário popular
Talvez muitas pessoas não saibam, mas Lampião também foi poeta. O cangaceiro mais conhecido da história foi habilidoso como dançarino, artesão, vaqueiro e tropeiro. A lista de ofícios do Capitão Virgulino inclui até amansador de burro brabo. Mas esse outro lado de Lampião parece esquecido diante da polêmica imagem de Rei do Cangaço.
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O ano 1919 marcou a entrada de Virgulino Ferreira da Silva para o Cangaço e para a História. Foi nesse ano que o pai dele foi assassinado pela polícia, dentro da problemática da questão da terra, ainda não resolvida no nosso Brasil. Entre os contextos de biografia, região ou país, ainda hoje as opiniões sobre Lampião transitam entre os extremos de herói e bandido.
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Por outro lado, a certeza é que a presença de Lampião e do Cangaço permanecem acesas na arte e na cultura. Parte dessas muitas histórias estão sendo preservadas na terra natal de Lampião, a pernambucana Serra Talhada, na região do Sertão do Pajeú. Cleonice Maria é das pessoas que buscam mais respostas sobre Lampião, para além de dualismos descontextualizados.
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Ela mora no sítio Passagem das Pedras, local em que Lampião nasceu ainda no século XIX, e preside a Fundação Cultural Cabras de Lampião, ambas localizadas em Serra Talhada. A Fundação está completando 25 anos de existência e, na opinião de Cleonice, está mudando o imaginário sobre o tema. Para ela o ecoar da arte e da cultura está ampliando as lentes históricas.
“É isso que a gente trabalha, o lado cultural deixado por ele. Inclusive o xaxado, que é uma dança genuinamente masculina, foi criada por Lampião e seus cangaceiros. Algumas pessoas ainda não têm essa informação como certeza. Mas eu posso lhe afirmar que o xaxado foi criado por Lampião”, salienta.
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O dançar era para se preparar para o ataque, ou mesmo, celebrá-lo. Essa representação hoje é feita pelo grupo musical Xaxado Cabras de Lampião, em Serra Talhada.
Há um acervo de registros na Fundação Cultural Cabras de Lampião. Com base nesses dados, Cleonice afirma que há um fascínio pela biografia de Lampião no Brasil e no mundo. O fato gerou um imenso volume de informações que provocam até mesmo um paralelo com o fenômeno das fakes news, mesmo em uma época em que o rádio era a tecnologia eletrônica mais avançada.
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“Eu vou citar um exemplo. Inclusive as lendas, porque esses personagens acabam virando lendas. Lampião é um personagem lendário hoje. Então temos centenas, milhares de histórias sobre Lampião, e são muito do imaginário popular. Tem uma história dele que não é verdade, é ficção, mas ela é tão contada até hoje que virou verdade, que é a história do sal”, exemplifica.
Para quem não conhece, a tal fake news do sal é contada de várias formas, mas com uma questão em comum. Fala-se que Lampião e seu bando estavam almoçando na casa de uma senhora e um dos cangaceiros teria reclamado que a refeição estava sem sal. Contrariado pela ingratidão, a versão cita que Lampião teria obrigado o cangaceiro a comer sal até morrer.
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De acordo com Cleonice a proposta da Fundação com a arte e a cultura é reduzir um débito do nosso país com a própria história. Para ela, o Cangaço e outros movimentos brasileiros são esquecidos nas escolas. É dessa forma que a Fundação desenvolve atividades no audiovisual, artesanato, dança, musicalidade, culinária, poesia.
Para Cleonice, o cerco sofrido pelo bando Lampião em 1938, na Fazendo Angicos, no sertão de Sergipe, marcaria apenas um dos capítulos dessas muitas histórias.
Edição: Lucas Weber