O dia 27 de julho é o Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço. É por isso que neste mês, diversas entidades ligadas à saúde realizam campanhas de conscientização sobre os fatores de risco e quais sintomas podem indicar a presença da doença.
Uma dessas organizações é a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP) que lançou a quarta edição da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço, com o lema “O câncer está na cara, mas às vezes você não vê”.
Segundo Rafael De Cicco, médico especialista em oncologia que também é membro da SBCCP, os casos novos por ano de câncer de boca, mais comuns entre os homens, e de de tireoide, mais presente nas mulheres, somam 45 mil novos registros por ano, estando próximo à quantidade de intestino, muito frequente na sociedade brasileira.
Em entrevista ao Brasil de Fato, De Cicco afirma que os sintomas relacionados a esses tipos de câncer são principalmente presença de feridas na boca ou um caroço no pescoço. Ele explica que para tais sintomas, existe a regra das três semanas. “Se esses sintomas que apareceram não melhorarem em três semanas, é prudente que se procure um especialista na região.” E ele alerta para que a população não deixe de procurar um médico em decorrência da pandemia de covid-19.
Qual é a importância da 4ª Edição da Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Cabeça e Pescoço?
Depois de 2014, onde no dia 27 de julho foi instituído o Dia Mundial de Prevenção de Câncer de Cabeça e Pescoço, a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço optou por fazer um mês inteiro dedicado à campanhas para a prevenção e conscientização do câncer de cabeça e pescoço.
É um câncer que é muito frequente no nosso meio, só que muitas vezes não é tão conhecido pelo público em geral, por isso optamos por fazer essa campanha.
E qual é a importância de ter um mês dedicado somente a isso? Digo, nós temos, por exemplo setembro amarelo, qual é a importância de incluir essa doença nesse rol de meses dedicados às doenças?
É importante porque tem uma diversa gama de doenças. Por exemplo, o câncer de laringe, de cavidade oral, de boca, câncer de pele da região do couro cabeludo e do pescoço, que são muito frequentes. São vários tipos de cânceres diferentes, cada um com seu fator de risco, tipo de tratamento e prevenção.
Durante todo o mês, focamos nos diversos tipos de tumor, que aparecem na região da cabeça e do pescoço. Fazemos a prevenção direcionada para cada tipo de tumor.
Agora, quais são os fatores de risco? A gente pode observar sintomas? Como ajudar a prevenir a doença?
Depende do tipo de tumor. Por exemplo, o câncer de cavidade oral, que é o quinto mais frequente nos homens no Brasil, o principal fator de risco são o cigarro e o álcool. Os dois juntos aumentam muito o risco de ter um câncer de cavidade oral, de boca, por exemplo.
E nas mulheres o câncer de tireoide é o quinto também em número de casos novos. Se a gente pegar todos esses cânceres de cabeça e pescoço, chega a ser o terceiro de incidência de casos novos no Brasil, e o principais fatores de risco na maioria desses tumores são o cigarro e o álcool.
Quanto ao quadro clínico, a gente tem que ficar muito atento à presença de feridas na boca, na garganta, um caroço no pescoço que apareceu. E, para esses sintomas, a gente tem uma regra que é basicamente das três semanas. Então, se esses sintomas que apareceram - a dor, feridas na boca que não cicatrizou, o caroço que apareceu no pescoço e não desapareceu - se não melhorarem em três semanas, é prudente que se procure um especialista na região.
Como acalmar a população, porque a gente vê muitos procurando um diagnóstico por meio da internet, o que também não é saudável. Como fazer esse equilíbrio?
A Internet ajuda muito, temos muita informação boa, mas por outro lado também muita informação de má qualidade. É importante pesquisar algo na internet? Super importante. Mas se depois de algum tempo não melhoraram os sintomas, a pessoa deve procurar um médico especialista em cirurgia de cabeça e pescoço.
É muito melhor ir ao médico, ser avaliado, ver que não tem nenhum risco para ser câncer, por exemplo, do que esperar essa lesão crescer e virar um tumor mais agressivo.
Por isso esse é o nosso lema: a lesão está na cara da gente, a gente olha no espelho todos os dias, a gente vê a lesão todos os dias, só que às vezes a gente mesmo, como paciente, negligencia isso.
Então é importante que se você ver uma lesão diferente, procurar um médico para ele poder avaliar melhor essa lesão.
E doutor, quais são os dados que temos hoje sobre a quantidade de pessoas com esses tipos de câncer? E qual a taxa de risco?
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, o mais incidente, que é por número de casos novos anuais, nos homens, é o câncer de boca, que é quinto mais incidente. Mais ou menos 13 mil casos novos por ano. O câncer de tireoide é o quinto também mais incidente, são mais ou menos de 13 mil casos novos por ano estimados para 2020.
Se a gente juntar, câncer de boca, de garganta e tireoide, temos cerca de 45 mil casos novos de câncer por ano só na população brasileira. Então é um tipo de câncer bastante frequente no nosso meio.
Em relação a outros tipos de câncer, esse é número alto, certo?
Esses tumores somam 45 mil casos, que é a quantidade de tumor de intestino, muito mais frequente na nossa sociedade.
Agora, para fechar a nossa conversa, com a pandemia, muitas coisas mudaram. Como os pacientes oncológicos continuam com o tratamento? É telemedicina é uma opção?
A gente tem que lembrar que a pandemia está aí, é um problema sério de saúde pública temos que tomar muito cuidado, o isolamento, higiene, álcool em gel, uso de máscara, lavar bem as mãos. Só que a gente não pode esquecer que existem as outras doenças. Elas aparecendo, não podemos deixar evoluírem, por exemplo, até um câncer.
Se você esperar dois ou três meses, achar que vai passar a pandemia, o câncer não vai esperar, vai evoluir, e a chance que a pessoa tem de se curar vai diminuir proporcionalmente ao tempo que ela ficar esperando. Temos que tomar todos os cuidados em relação ao coronavírus durante a pandemia? Sim, mas sentiu alguma coisa diferente e tem algum sintoma diferente? Procure um médico.
Hoje, os hospitais estão tomando muito cuidado com isso, tem fluxos distintos para pacientes que estão com suspeita para coronavírus. A chance de você se infectar em um hospital para fazer uma consulta médica, um diagnóstico não é alta, se você tomar os devidos cuidados, e os hospitais estão tomando. Não é para deixar para depois.
Edição: Rodrigo Durão Coelho