“É uma comunicação criminosa. Quando passada essa pandemia, Bolsonaro tem que prestar contas"
A disseminação de notícias falsas e a utilização das redes sociais como meios oficiais de informação do governo federal, são apenas duas das várias estratégias de comunicação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo o sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal.
Apesar de aparentar ser amadora, diz Leal, os métodos da transmissão dessa mensagem oficial do governo desde o período eleitoral são altamente profissionalizados e politizados, e não foram inventados no Brasil.
“É algo que já havia sido testado. Foi testado numa grande potência, como os EUA, e foi utilizado igualmente na campanha do Brexit no Reino Unido. A saída do Reino Unido da União Europeia foi totalmente influenciada por uma campanha publicitária semelhante à que foi, e que continua sendo, usada pelo Bolsonaro aqui ”, afirma o analista.
Laurindo Lalo Leal é o convidado do programa BDF Entrevista desta semana. Ele faz uma análise das estratégias de comunicação do governo de Jair Bolsonaro, incluindo o papel de seus filhos no esquema.
O sociólogo ainda fala sobre a "comunicação criminosa" do presidente da República em relação à pandemia da covid-19, e considera que ele deverá responder criminalmente por ela.
Confira um resumo da entrevista:
Brasil de Fato: Muitas pessoas veem a comunicação do Governo Bolsonaro como amadora. Como você avalia isso?
Lalo Leal: Não vejo enquanto amadora, pelo contrário, acho que é uma comunicação altamente profissional e politizada. De acordo com a minha pesquisa, não houve um presidente e governo brasileiro que tivesse a mesma intensidade de informações entre a campanha e a ocupação do governo. Praticamente não houve interrupção, todo o movimento eleitoral continuou sendo um apoio para o, agora, presidente da República. Isso não tinha acontecido na história. Geralmente, os candidatos ganham a eleição e esquecem a comunicação. O que é errado inclusive. Mas Bolsonaro não fez isso, ele manteve seus eleitores e transformou em apoiadores do governo.
A imprensa brasileira vem sofrendo ataques constantes por parte do governo, que fomenta um discurso violento sobre os jornalistas. De que forma esses ataques do presidente aos veículos jornalísticos é uma estratégia de comunicação? Como ele se beneficia disso?
Percebemos que a mensagem do governo não trata de políticas públicas, pelo contrário, elas tratam de manter o embate e a disputa, como se ainda estivéssemos às vésperas da eleição. Isso também extingue a comunicação, porque a linha das mensagens é sempre a do conflito. É um governo que se propôs a viver tensões.
Sabemos que o esquema das fake news gera lucro e alimenta milícias ligadas ao poder. De que forma essas milícias digitais operam no governo Bolsonaro enquanto estratégia de comunicação?
As fakes news são estratégias testadas fora do Brasil, aplicada nas eleições e mantida ao longo do governo. Ela faz parte da estrutura de comunicação, tanto é que em nenhum governo anterior foi constituído, como foi agora, um gabinete para tratar e implantar a política de comunicação digital. Foi testado numa grande potência, como os EUA, e foi utilizado igualmente na campanha do Brexit no Reino Unido. A saída do Reino Unido da União Europeia foi totalmente influenciada por uma campanha publicitária semelhante à que foi, e que continua sendo, usada pelo Bolsonaro aqui. Chamamos de “milícias digitais” como uma alusão às milícias reais, que usam de forma violenta a comunicação ao fazer política no Brasil. As fake news não são mensagens veiculadas para a mídia, são mensagens transmitidas diretamente para o eleitor, sem passar por nenhum filtro.
Os filhos do Bolsonaro, o Carlos e o Eduardo participam ativamente das redes sociais com informações oficiais sobre o Governo. Qual o papel dos filhos do presidente nessa comunicação?
Os filhos do Bolsonaro desde a campanha eram os grandes mentores da comunicação de Bolsonaro. E segundo informações que juntei, o Carlos Bolsonaro foi o idealizador deste gabinete que propaga essas notícias pelas redes sociais. A presença dos filhos é uma presença política, porque eles são quadros desta extrema-direita, mas é também uma presença tecnológica, porque eles dominaram este aparato e estabeleceram, principalmente o Eduardo, uma ponte com os setores nos Estados Unidos que já tinham essa experiência e repassaram essa tecnologia.
Como você avalia a comunicação do governo Bolsonaro durante a pandemia da covid-19?
“É uma comunicação criminosa. A expectativa é que quando passada essa pandemia, ele venha a prestar contas do crime que ele vem cometendo na sociedade brasileira. Essa forma de comunicação na pandemia pelo governo Bolsonaro, é, segundo alguns especialistas que eu ouvi na área médica, responsável talvez por 60 a 70% das mortes. Ou seja, esses óbitos poderiam ter sido evitados se a comunicação fosse outra, fundamentada em fatos e estudos.
Edição: Mauro Ramos