Movimentos populares distribuíram, nesta sexta feira (17), 125 cestas básicas para famílias de baixa renda das comunidades do Boqueirão e do Jardim São Savério, na Zona Sul de São Paulo.
A campanha, que conta com mais de 70 voluntários, é uma iniciativa da Escola Nacional Paulo Freire, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Levante Popular da Juventude, e do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).
“Ajuda muito né, pra gente que tem criança também, que não estamos conseguindo emprego no momento; eu acho muito importante”, diz Vanessa de Souza, moradora do Boqueirão e uma das mães que recebeu alimentos. Assim como o marido, está também está sem ocupação.
Dilma de Oliveira também considera a ajuda fundamental. Feirante, ela hoje não consegue exercer o ofício por conta da doença do filho. A trabalhadora, que veio para São Paulo depois de uma “vida sofrida” em sua roça pernambucana, afirma que dividirá o alimento que recebeu, já que a crise afeta toda sua família.
“O que eu ganhei agora eu já vou compartilhar com os meus irmãos, porque há dias eles estão sem trabalhar e sem ganhar nada. Agradeço muito, por Deus, e pela comunidade”, conta Dilma, que também vive no Boqueirão.
Ao todo, as famílias das duas localidades já receberam mais de 9 toneladas de alimentos durante sete entregas. As ações de solidariedade começaram em abril, ainda no início do período de isolamento social.
“O que a gente tem visto aqui é a luta pela sobrevivência das famílias, diante de um desemprego que aumentou muito, diante de uma ampliação das moradias precárias, sem condições de saneamento e água, sem condições inclusive de construir um isolamento adequado durante a pandemia”, afirma David Martins, do Levante Popular da Juventude, que vem participando das ações desde o começo.
Para Martins, que também é um dos coordenadores da Escola Nacional Paulo Freire, o esforço não é restrito a entrega das doações e também envolve a preocupação com os direitos negados a essa população — como o acesso a uma renda mínima.
"A gente foi entendendo que o papel de construção da solidariedade nesse território passava por construir soluções para além do problema da fome, que é o mais emergente, mas também de buscar entender os limites dos programas, do auxílio emergencial, que não chegou em todas as famílias que necessitavam", afirma.
A partir deste sábado (18), o projeto segue também com o início do Curso de Agentes Populares de Saúde. A iniciativa já vem sendo construída em outros locais do país, como é o caso de Recife, e irá formar agentes comunitários para atuarem no mapeamento, orientação e cuidado das famílias nas duas comunidades.
Uma das orientadoras do curso, a médica Nathalia Neiva, que vem atuando também no acolhimento às famílias na Casa de Saúde, destaca a importância do curso em um contexto de aumento no número de mortes e infectados pela covid-19 nas periferias.
“Tem um perfil que morre mais, que são pessoas pobres, que moram nas periferias das grandes cidades, e que são negras. Então, a gente está fazendo essa iniciativa no sentido de proteção das comunidades, para manter as periferias vivas, como também para a formação de novos sujeitos, capazes de serem cuidadores numa perspectiva de educação popular em saúde”, explica Neiva, que integra a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares.
As entregas e ações organizadas pela Escola Nacional Paulo Freire - que envolvem também o atendimento médico e jurídico - fazem parte da campanha Periferia Viva, uma iniciativa conjunta entre os movimentos populares de todo o país que, além da solidariedade, busca tornar o povo um sujeito ativo no enfrentamento às desigualdades.
“Essa é a grande lição que essa pandemia lega para os movimentos populares, lega para a sociedade brasileira. Ou o povo entra na história para resolver seus problemas, ou a barbárie, a fome, a morte se instalam, que é o projeto que esses governantes têm apresentado ao povo”, conclui Martins.
Para manter as ações e a montagem das cestas, a Escola Paulo Freire reúne contribuições financeiras de voluntários, por meio do e mail secgeralescolamovimentos@gmail ou pelo telefone (11) 93342-8230.
Edição: Mauro Ramos