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Os 100 anos de Florestan Fernandes: uma mensagem de esperança aos jovens do Brasil

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"O potencial radical de um jovem constitui um agente político valioso. Ele está ‘embalado’ para rejeitar e combater a opressão sistemática e a repressão dissimulada, o que o converte em um ser político inconformista e promissor" - Duca Lessa
Além de brilhante e rigoroso, Florestan também foi um intelectual orgânico da classe trabalhadora

Neste dia 22 de julho completa-se o centenário de um gigante do pensamento brasileiro. Florestan Fernandes vocaliza na sua trajetória de vida e no seu desenvolvimento como intelectual orgânico os grandes problemas estruturais da nação brasileira.

Florestan Fernandes teve a vida fortemente marcada pelas desigualdades sociais e a latente segregação social que são a face interna do modelo aqui implantado de capitalismo dependente. Desde muito cedo, o menino Florestan Fernandes teve que ganhar a vida na lida do trabalho nas ruas de São Paulo, o que marcou sua trajetória individual de compromisso com a identificação, sistematização e superação dos problemas seculares da desigualdade social brasileira.

Além de brilhante e rigoroso na sua trajetória acadêmica, Florestan Fernandes também foi tornando-se um intelectual orgânico da classe trabalhadora, sobretudo após a interrupção da “revolução nacional” brasileira, em curso nos anos 1960, onde uma transformação profunda do ponto de vista da diversificação industrial estava caminhando ao encontro das reformas de bases, condição necessária para que o crescimento e a diversificação econômica dessem um salto qualitativo rumo a superação do subdesenvolvimento e da condição dependente e com resquícios coloniais que caracterizava a economia e a sociedade brasileira.

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Florestan Fernandes nos brinda, na sua principal obra “A revolução burguesa no Brasil” com um minucioso diagnóstico acerca da natureza e do caráter da burguesia brasileira, que – ao interromper a revolução nacional com uma contrarrevolução preventiva e permanente – sela na história sua marca de burguesia antinacional, antidemocrática e antipopular, incapaz de ultrapassar a etapa das revoluções burguesas “interrompidas”.

Assim, o conjunto das reformas estruturais, típicas da modernidade capitalista, adquirem conteúdo revolucionário sob o capitalismo dependente, principalmente a partir da sua etapa de “imperialismo total”, e passam a ser responsabilidade da classe trabalhadora, em um processo dialético e ininterrupto em que a luta por revoluções dentro da ordem transforma-se em fora da ordem, na medida em que a sua completude coloca em xeque a dominação de classe.

Os últimos anos do nosso autor centenário são marcados por um Florestan Fernandes muito mais presente na cena política nacional, especialmente como militante do PT e como deputado constituinte. Em um dos seus textos para a sua coluna no jornal Folha de S. Paulo, intitulado “O dilema Político dos Jovens”, Florestan rompe com um conjunto de análises nostálgicas que sempre vangloriam o passado remoto, e “acredita na rapaziada que segue em frente e segura o rojão”, nas palavras de Gonzaguinha.

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Dialogando com o conservadorismo presente que insiste em estigmatizar os jovens – sobretudo àqueles que descobriram outros instrumentos e estratégicas alternativas de luta política – uma frase de referido texto: “Hoje o jovem retorna aos seus papéis, em um Brasil diferente, e não deve ficar encantado por um passado que não pode ser reconstruído e não foi tão legendário ou heroico como as idealizações sublinham.”

Florestan está dialogando, nessa situação, com uma parte da esquerda e do movimento sindical que bradou as mesmas acusações a que hoje a juventude ainda é vilipendiada, sobretudo àquelas que sugerem que os jovens “de hoje em dia” são acomodados, despolitizados e individualistas, o que casa bem quando a sua régua é um modelo de organização e de luta política que interdita o debate ao novo.

Florestan, nessa ocasião, estava referindo-se ao movimento que ficou conhecido como “novo-sindicalismo”, do qual Luiz Inácio Lula da Silva era o seu principal expoente. Um movimento que ousou denunciar o sindicalismo de Estado e a estrutura corporativista e lançou as bases para a retomada da bandeira da liberdade, democracia e autonomia sindical.

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Por fim, ainda segundo Florestan Fernandes nesse artigo de opinião, “o potencial radical de um jovem constitui um agente político valioso. Ele está ‘embalado’ para rejeitar e combater a opressão sistemática e a repressão dissimulada, o que o converte em um ser político inconformista e promissor”.

Viva Florestan Fernandes e viva a juventude brasileira que, com seus instrumentos de organização política, segue absorvendo o legado daqueles que nos antecederam sem perder a compromisso com a construção de um Brasil novo, que passa por participação política e novas construções metodológicas e organizativas.

Edição: Rodrigo Chagas