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Artigo | 26 de julho – Dia Nacional da Rebeldia Cubana

Há 67 anos, Cuba segue os princípios declarados no assalto ao quartel Moncada; conheça a história da ação e seu legado

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Cuba comemora neste 26 de julho 67 anos do assalto ao Quartel Moncada - Adalberto Roque/AFP

Como uma ação que não consegue atingir seu objetivo pode ser o início de uma transformação? Como uma derrota pode marcar uma vitória?

Recordemos os antecedentes do 26 de julho: e é a História o que explica essa aparente contradição.

Com muitas lutas por libertação e uma longa tradição de resistência, Cuba vai ‘tecendo’ sua trajetória épica. A guerra de independência da Espanha faz surgir muitos heróis e heroínas no país e o afã da liberdade segue sempre como a vitória final a se alcançar. Assim é que, no século XIX nasce José Martí, o maior símbolo do país (o apóstolo’ de Cuba), que combate e morre pela independência cubana, deixando registrado um legado imortal em vários aspectos da vida civil, legado este que conduzirá os rumos do país.

No entanto, após a independência de Cuba da metrópole espanhola ainda resta uma grande influência política e econômica dos Estados Unidos sobre a Ilha. Uma dominação que se faz presente no cotidiano de Cuba com pouca margem à sua autonomia – agora, ao menos teoricamente - como país livre e soberano. Continua, dessa forma, a opressão sobre o povo cubano em outros moldes, mas sempre ali presente. O país se transforma, mas sempre com os grilhões dos EUA e termina por se constituir como verdadeiro “quintal” daquele país e, pior, em um centro de ‘lazer’ com jogatina, cassinos, a máfia atuando diretamente nesses negócios e na prostituição local. Enfim, Cuba se transmuda em verdadeiro bordel para os norte-americanos que possuem ‘passe livre’ para entrar e sair do país quando bem lhes aprouvesse.

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Após meio século desse tipo de dominação pelos EUA, humilhações e violações de direitos do povo cubano surge neste cenário mais um ‘representante’ do governo estadunidense. O sargento Fulgencio Batista, em 10 de março de 1952, realiza – a mando de seu ‘patrão’, os EUA – um golpe de Estado e a partir daí instaura uma ditadura violenta. Assassinatos constantes pela temida polícia, violações, opressão e violência institucional passam a ser comuns no país, gerando, como consequência, revolta e insurgência populares. Tudo isso fará com que alguns núcleos da população comecem a se organizar, tornando a década de 1950 como o auge da luta revolucionária.

Desta forma, será criado um grupo formado por estudantes, camponeses, trabalhadores urbanos que, indignados e inconformados com os crimes cometidos pelo Estado e com a falta de soberania do seu país, decidem não mais aceitar passivamente a opressão imposta a todo o povo. Seguindo os ensinamentos de José Martí, eles colocam em ação um plano de libertação da pátria. A ideia é assaltar o lugar onde se encontram armazenadas as armas usadas pelo aparelho de repressão a fim de distribuí-las ao povo que, dessa forma, poderá se defender da violência estatal e lutar pela autodeterminação de seu próprio país.

Analisados os locais desse armazenamento, o plano começa a tomar forma entre um grupo de cerca de 100 pessoas indignadas e corajosas que decidem assaltar o Quartel Moncada, em Santiago de Cuba, e o Quartel Carlos Manuel de Céspedes, em Bayamo, ambos grandes depósitos de armas. O período escolhido é o do carnaval em Santiago (julho) – o que serviria para diluir a ação pelo fato da festa atrair as atenções. Assim, esses homens, entre eles, Fidel Castro, e duas mulheres, Haydeé Santamaría e Melba Hernández, partem para os locais simultaneamente no dia 26 de julho de 1953 e, por um desencontro e acasos e falhas, são presos na tentativa e uma carnificina acontece no local. O assalto ao quartel não acontece, a tentativa é frustrada. Quem sobrevive vai preso em condições terríveis. Dentro da prisão seguem sendo torturados, violados e mortos.

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O Quartel Moncada foi transformado em um centro escolar e hoje abriga também o Museu de História do 26 de julho / Yamil Lage/AFP

O ocorrido é divulgado como uma vitória do governo, mas o que decorre daí é o despertar da consciência revolucionária do povo. Durante a prisão dos assaltantes, inicia-se uma campanha popular pela libertação do grupo, uma vez que a população tinha convicção de que a luta daqueles homens e mulheres era para benefício do próprio povo. 

Da prisão, Fidel, que era advogado, escreve sua própria defesa, o famoso discurso A História me absolverá que, na verdade, é uma análise minuciosa da situação do país e um verdadeiro programa nacional de medidas revolucionárias para resolver os problemas, além de ser uma grave denúncia dos crimes cometidos pelo Estado. Sua defesa oral, que se deu no dia 16 de outubro de 1953, é um dos mais importantes documentos políticos de Cuba. Ao final ele conclama aos jurados:“Condenem-me, não importa, a história me absolverá.  Como verdadeira profecia, ao longo do tempo se realizou e a história não só o absolveu como o tornou invencível e eterno.

E o que eram afinal as reivindicações do país que constavam do documento? As principais consistiam em: distribuição das terras aos camponeses; nacionalização dos serviços públicos; industrialização do país; eleições livres e honestas; reforma educacional dentre outras.

Apesar de sua brilhante defesa, Fidel Castro é condenado a 15 anos de prisão, mas anistiado com seu grupo graças à campanha popular feita em toda a ilha. São exilados no México e, em 1954, fundam o Movimento Revolucionário 26 de julho: MR-26-7, que já tem como princípio o lema: “A revolução dos humildes, pelos humildes e para os humildes”. Este será o conceito básico do triunfo da Revolução Cubana, símbolo e estrutura do Exército Rebelde para alcançar a vitória. Meio século depois, o lema será repetido e renovado na comemoração dos 50 anos da Revolução em 2009.

Exilados no México após a condenação, o grupo ainda mais organizado e convicto da vitória, retorna a Cuba em 1956 em um pequeno barco (o Granma) e, após um período em Sierra Maestra, no oriente do país e em outras localidades, sempre organizando e conscientizando o povo, MR 26 de julho/ Exército Rebelde triunfa finalmente em 1º de Janeiro de 1959 e, com o apoio do povo, toma o poder para transformar Cuba em um país de todos e todas.


Assaltantes do quartel Moncada deixam a prisão / Divulgação

De tudo isso se depreende o porquê da semente da Revolução Cubana ter sido plantada naquele 26 de julho. Dali, daquela derrota, surgiu a consciência e a aguerrida vontade de alterar a realidade do povo cubano. O assalto ao quartel de Moncada foi um inesquecível ato contra a ditadura e a opressão. As pessoas que participaram e as que a apoiaram de várias maneiras se transformaram nos protagonistas da primeira revolução socialista nas Américas.

O quartel Moncada foi o primeiro quartel transformado em escola. Após a Revolução, o local foi transformado na Cidade Escolar 26 de julho, em uma simbólica prova das transformações que dali partiram para todo o país.

Aqui fica o lembrete e a importância do assalto e da sua consequência - a Revolução Cubana - para todos nós latino-americanos.

Façamos um exercício de mentalização hipotética e nos perguntemos como seria a América Latina sem a Revolução Cubana e Moncada. Teríamos um mínimo de orgulho por nossa região? Ou seríamos todos quintais do império norte-americano? Algum país teria desafiado o império? Veríamos saída para nossos problemas? Seríamos todos passivamente espoliados? Teríamos outro exemplo de medicina? E de alfabetização? Seria provável sonhar com outro mundo possível? Saberíamos ao certo o que significa a palavra solidariedade?

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Essas são as razões para que, apesar dos tempos difíceis em que vivemos, possamos celebrar também aqui no Brasil o 26 de julho e saber que esse farol que nos guia e que nos faz ter esperança está lá, nos lembrando que, de uma pequena derrota, é possível fazer uma grande vitória. E continuar sendo rebelde!

É com muita admiração que neste 26 de julho parabenizamos o povo cubano pelos 67 anos em que seguem os mesmos princípios declarados no assalto ao quartel Moncada. Parabenizamos também esse admirável povo e seus líderes por conseguir manter seus princípios, a dignidade e a soberania de Cuba frente a tantas dificuldades e a um desumano e genocida bloqueio que os Estados Unidos insistem em manter. Parabenizamos o povo cubano por, ainda assim, manter a solidariedade e o internacionalismo como um dos seus princípios mais valiosos.

Gracias, Cuba, por dividir com quem precisa o que vocês possuem e não o que lhes sobra.

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*Carmen Diniz é integrante do Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.

Edição: Luiza Mançano