Segundo o governo iraniano, até o último domingo (26), o país registrava 291.172 casos de covid-19, dos quais 253.213 eram de pacientes recuperados e 15.700 de mortes. Com base nesse cálculo, o número de casos ativos no Irã atualmente gira em torno de 22 mil.
Sendo um dos primeiros países fora da China a registrar o surto do novo coronavírus, ainda que ocupe a posição de umas das nações mais afetadas na Ásia ocidental em termos de mortes, os números oficiais dão ao Irã boas expectativas e esperanças, no atual marco da segunda fase da disseminação do vírus.
O Irã tem uma população de cerca de 84 milhões de pessoas e grande parte delas depende da extensa rede de amparo social do Estado para seu sustento. Em termos econômicos, o país vem enfrentando grandes desafios em função das sanções impostas unilateralmente pelos Estados Unidos. Na atual situação de pandemia, o aumento dos gastos na saúde também está esgotando os recursos do país.
Sanções norte-americanas secaram a maior fonte de renda de exportações iranianas, fundamental para a manutenção de seus programas sociais. Mais de 80% dos lucros em exportações do país vinham da venda de petróleo e gás natural, isso antes da imposição das sanções em 2018. Sem esses recursos, o Irã tem um desafio ainda maior ao lidar com a crise de saúde.
Cooperação internacional crucial
O Irã poderia aguentar o impacto das sanções e, ao mesmo tempo, lutar contra a pandemia com a ajuda humanitária e diplomática de países como a China.
Por exemplo, a China enviou sua primeira equipe médica ao país persa no dia 29 de fevereiro, dez dias após o primeiro caso registrado de covid-19 na nação. Peritos e voluntários chineses utilizaram sua experiência para ajudar seus colegas iranianos.
O povo chinês também providenciou ajuda para o combate da covid-19 em solo iraniano por meio de doações individuais, que acumularam mais de US$ 567 mil (cerca de R$ 2,9 milhões) nas primeiras 24 horas de abertura da página no Weibo, a principal rede social chinesa.
Diversos relatos da assistência chinesa ao Irã, através da distribuição de máscaras, suprimentos médicos, estruturas de tratamento de água, entre outras coisas, também surgiram na mídia.
O governo iraniano também enviou navios petroleiros e com outras comodidades à Venezuela em junho. Além disso, providenciou recursos essenciais para o país latino-americano, que também foi uma fonte de renda importante para ajudar o Irã com sua crise interna. A manobra foi uma vitória moral importante para o movimento anti-imperialista global, particularmente no contexto das ameaças explícitas dos Estados Unidos contra ele.
O governo iraniano também segue consolidando gradualmente sua relação com a Rússia e a China, através dos “tratados de amizade” de longo prazo, o que vem preocupando os Estados Unidos.
Histórico misto do governo
O governo iraniano, em grande parte sob pressão da comunidade comercial conhecida como "bazar" e de "instituições religiosas", achou necessário revogar a quarentena em maio, apesar dos alertas das autoridades da saúde, que acreditavam que a reabertura era prematura.
O governo concordou com a retomada de praticamente todas as atividades laborais e de lazer, com o transporte público operando na mesma capacidade que antes da pandemia. Isso gerou um segundo surto de casos e forçou o governo a impor um lockdown, mais uma vez, nas províncias mais afetadas.
No dia 23 de julho, Teerã anunciou um pacote de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,1 bilhões) para ajudar aqueles que não estão conseguindo pagar seus alugueis durante a pandemia. O governo vai disponibilizar um empréstimo de US$ 2,3 mil (R$ 11,8 mil) para inquilinos e proprietários.
Na mesma medida, o governo vai injetar mais dinheiro para fortalecer sua rede de amparo social. Há também notícias de uma vacina sendo produzida no país que passou da primeira fase de testes.
Apesar disso, o aumento no número de novos casos e óbitos é alarmante, com a semana passada tendo sido a pior desde o começo da pandemia, registrando mais de 2,5 mil novos casos e quase 200 mortes diárias, evidenciando que o Irã precisa ser mais cauteloso no seu combate à doença.
*Publicado originalmente no People's Dispatch.
Edição: Vivian Fernandes