Um estudo divulgado na última sexta-feira (31) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a população que vive em bairros mais pobres do Rio de Janeiro é a mais atingida pela pandemia da covid-19. Apesar de os casos terem começado pelos bairros da Zona Sul, pela Barra da Tijuca, na Zona Oeste, e pela chamada Grande Tijuca, na Zona Norte da capital, foi nas regiões periféricas que a doença se tornou mais letal, a partir de abril.
O estudo, que vai até o dia 13 de junho e trabalha com dados da Secretaria Municipal de Saúde do Rio, disponibilizados pelo Instituto Pereira Passos (IPP), informa também que até o final de março as notificações da covid estavam concentradas na região de Índice de Desenvolvimento Social (IDS) mais alto. O IDS é baseado no Censo Demográfico de 2010, último disponível, e sintetiza oito indicadores, tais como moradia, educação, renda, água e esgoto, coleta de lixo etc.
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Segundo os dados divulgado na pesquisa do Ipea, até o final de março, a faixa mais rica da cidade (IDS 5) concentrava 50% dos casos de covid-19 enquanto os bairros mais pobres (IDS 1) 11% das notificações. No período total da amostragem (de 8 de março a 13 de junho), contudo, a letalidade nos bairros de IDS 1 e 2 já era o dobro em relação aos bairros de IDS 5. Das 6.735 mortes até aquele momento, 45% ocorreu em bairros menos desenvolvidos e 21,6% em bairros mais desenvolvidos.
Números
Na tabela elaborada de bairros elaborada pelo Ipea é possível verificar que o bairro com maior IDS na capital, a Lagoa, com população de 21.198 pessoas, teve 284 casos confirmados e 20 óbitos pela covid. Já Paciência, bairro da Zona Oeste no grupo de bairros com IDS 1, cuja população é de 94.626 pessoas, registrou 435 casos de covid e 110 óbitos decorrentes da doença.
O exemplo extremo, com os bairros da Lagoa, na Zona Sul carioca, e de Paciência, se reflete nos demais bairros de cada Índice de Desenvolvimento Social. Até junho, os bairros mais ricos (IDS 5), cuja soma da população é de 1,2 milhão de pessoas, registraram 14.510 casos e 1.455 mortes. Na região mais pobre, com bairros de IDS 1 e cuja soma da população é de 1,6 milhão de pessoas, o número de casos foi bem menor no início da pandemia (6.210 casos), mas a taxa de mortes é alta (1.219 óbitos).
Subnotificações
O Ipea destaca que a taxa de letalidade pode não ser precisa devido ao número reduzido de testes disponibilizados para a população, além de outros fatores. Um dos autores do estudo, o economista e pesquisador do Ipea Pedro Miranda, ressalta: “A subnotificação dos casos e as falhas na identificação dos óbitos podem ser maiores nas regiões menos desenvolvidas”. Ele salienta a importância de informações organizadas e transparentes para auxiliar o poder público no combate à pandemia.
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Ainda de acordo com a pesquisa, os resultados podem ser influenciados por vários fatores, entre eles: maior exposição ao risco da população residente nas áreas menos desenvolvidas; menor acesso aos serviços de saúde nessas áreas; menor testagem dessa população residente em áreas menos desenvolvidas quando comparada com a população residente em bairros com maior IDS.
Reportagem do Brasil de Fato no início da pandemia do novo coronavírus mostrou que a falta de água em comunidades do Rio é um fator de risco elevado para a população e contraria regras básicas de higiene, como a lavagem constante das mãos, determinadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Rodrigo Chagas e Eduardo Miranda