"O objetivo é reforçar a visibilidade do que tem sido vivenciado nas favelas em relação à pandemia"
Relatos obtidos por novo monitoramento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em comunidades pobres e favelas do Rio de Janeiro (RJ) sobre a covid-19, apontam que a pandemia atinge de forma mais expressiva as áreas mais pobres da cidade, com menos infraestrutura estatal.
As informações constam do Radar Covid-19 Favelas, lançado no dia 30 de julho com relatos de moradores de comunidades de Catiri, Jacarezinho, Manguinhos e Maré.
Fábio Araújo, sociólogo e pesquisador da Cooperação Social da Fiocruz que ajudou na construção do informativo, aponta que os relatos “dão conta dos processos de determinação social que produzem o processo de saúde e doença, como, por exemplo, as questões relacionadas ao saneamento, acesso à água, coleta de lixo, e como que isso tem se dado atualmente na realidade das favelas”, explica explica
O Radar chama a atenção para a necessidade de olhar para as necessidades que vêm da favela e não para o que as autoridades acreditam vir desses territórios. Por essa perspectiva, os relatos apontam para um ausência estrutural do Estado nas favelas, por meio da falta de assistência médica e sanitária, no caso da pandemia do novo coronavírus.
“São questões que não começaram agora, mas que tiveram seu agravamento com a pandemia”, afirma Araújo. Para ele, com a medida, a Fiocruz também“tenta reforçar a participação social dos moradores de favelas na discussão e na construção de políticas públicas e na construção de soluções para o enfrentamento da covid-19”.
Um levantamento divulgado também no final de julho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que a maioria das mortes causadas pela doença no Rio é de moradores dos bairros mais pobres.
Ainda em junho, no dia 26, uma pesquisa realizada pelo epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Lotufo, no município paulista, mostrou que a letalidade do novo coronavírus é 60% maior em bairros pobres do em relação aos bairros ricos.
Radar Covid-19 Favelas
O objetivo do Radar é reunir informações com base em um monitoramento de fontes não oficiais, como páginas em redes sociais desses locais, bem como o contato direto com moradores, coletivos e lideranças comunitárias, para “reforçar a visibilidade do que tem sido vivenciado nas favelas em relação à pandemia de covid-19".
"Funciona através do monitoramento e da coleta de informações das mídias sociais de coletivos de favelas e também através da construção de uma rede de interlocutores que são formados por moradores e lideranças de movimentos sociais de favelas”, aponta Araújo.
A publicação quinzenal foi desenvolvida pelo professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Carlos Batistella, e pelos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), Roberta Gondim, e da Cooperação Social da Fiocruz, André Lima, Fábio Araújo, José Leonídio Madureira e Mariane Martins. O documento também conta com a colaboração da professora-pesquisadora da EPSJV, Bianca Leandro e da Residência em Gestão da Atenção Primária, da ENSP/Fiocruz.
O Radar também é uma iniciativa da Sala de Situação Covid-19 nas Favelas, ligada ao Observatório Covid-19 da Fiocruz.
Edição: Leandro Melito