O Paraná registrou a primeira morte de indígena vítima da covid-19. No dia 25 de julho, morreu Gregório Venega, de 105 anos, indígena Avá-Guarani e pajé da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu. O ancião ficou internado desde o dia 7 de julho, mas não resistiu.
“Era um dos pioneiros da aldeia, um dos mais importantes que a gente tinha para contar a nossa história. A gente aprendeu muito com ele, que presenciou todos os alagamentos, viveu toda a nossa luta. Infelizmente, a gente perdeu nosso grande líder espiritual”, conta Celso Japoty Alves, cacique da aldeia Ocoy.
Os alagamentos mencionados pelo cacique contam a luta histórica dos Avá-Guarani do Oeste do Paraná pelo direito originário à terra. Com a construção da Usina de Itaipu, as comunidades indígenas que viviam às margens do rio Paraná foram, ano a ano, perdendo terras. Em 1982, em Foz do Iguaçu, a comunidade Jacutinga foi uma das que ficaram submersas em razão do alagamento para a criação do lago da usina. Gregório era um dos indígenas atingidos.
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A despedida do ancião, segundo o cacique Celso, foi atípica, sem os rituais tradicionais. “A gente tem mais uns quatro com 80, 90, 100 anos. Eles são os líderes da nossa aldeia, principalmente da espiritualidade. Então a gente está orientando bastante. Mudou bastante a rotina, até na casa de reza teve que parar aglomeração. Pra não contaminar principalmente os mais velhos. A gente já perdeu um e não quer que aconteça com outros”, diz o cacique.
A aldeia Ocoy foi uma das primeiras no Paraná a ter foco de contaminação. O primeiro caso confirmado, em 17 de junho, foi seguido por aumento massivo de infecções. Boa parte dos infectados eram trabalhadores de frigoríficos da empresa Lar Cooperativa Agroindustrial. Até o momento, foram 77 indígenas infectados na Ocoy.
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Fonte: BdF Paraná
Edição: Rodrigo Chagas e Gabriel Carriconde