Assentamento produz agroecologia em meio a terras dominadas pelo agronegócio
O Assentamento Califórnia, localizado no município de Açailândia, região pré-amazônica do sul do Maranhão, é o resultado coletivo de trabalhadores organizados pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Em meio aos grandes projetos pecuários, extrativistas e minerais, famílias resistem em defesa da produção agroecológica e da dignidade humana.
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Lá são produzidas hortaliças, leite, queijo e galinha caipira, vendidas nas feiras livres da região. Mas o destaque mesmo, é a produção de mel, que acontece com o apoio da Associação Agroindustrial Vale de Açailândia (AAVA).
Ozias Carvalho, sócio-fundador do projeto e apicultor há 27 anos, explica que além deles, as famílias também se envolvem em todo o processo de produção e comercialização.
“Nós temos, modéstia à parte, o envolvimento, a dedicação das famílias e a distribuição de trabalho [...] como associação, nós temos toda a infraestrutura, máquinas, equipamentos, galpões, são coletivos. E os apiários são individuais, cada família tem seu apiário.”
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A associação foi fundada em maio de 1995 e hoje agrega 40 sócios. Um ano depois da criação, Ozias conseguiu iniciar o seu primeiro apiário, mas foi questionado pela comunidade, devido ao medo das abelhas. Mas superado esse receio, mais pessoas foram aderindo à prática ao longo dos anos, e em 2002, o interesse dos jovens foi decisivo.
“Vários jovens começaram a se aproximar da atividade, e ao se aproximarem, sentimos a necessidade de reativar a associação, que estava ligeiramente desativada.”
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Dhonatas de Moura é um desses jovens que se atraíram pela apicultura. Hoje, aos 33 anos, ele vive exclusivamente da cultura do mel, Vice-presidente da Associação, ele conta com orgulho que além de manter seu apiário, já presta assistência técnica aos mais velhos.
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Variedades de mel
O carro chefe dos produtores é o mel da abelha apis mellifera africanizada, mas há também da tiúba, uruçú, jataí e outras nativas da região, o que diversifica a produção e também a alimentação das famílias.
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A comercialização é feita diretamente com o consumidor, mas, segundo Ozias, o que é vendido já garante a complementação de renda a ponto de muitas famílias não produtoras buscarem a associação para participarem do processo de apicultura.
Em 2019, o grupo de apicultores do assentamento produziu 4.800 quilos de mel da apis mellifera, uma média de 400 quilos mensais. De melípona, que são das abelhas nativas, foram produzidos 630 quilos. Mas além do mel, eles produzem própolis, pólen e cera, esses, para consumo próprio ou sob encomenda.
Casa do Mel
O coletivo está se organizando e levantando os documentos necessários para a construção da Casa do Mel e certificação dos produtos.
O espaço vai possibilitar uma capacidade de produção de até 50 toneladas de produção, conta Ozias.
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”Já temos as principais máquinas de extração, manipulação de cera, de mel, e temos a capacidade de uma produção de aproximadamente 50 toneladas por ano, só faltando a construção do prédio definitivo da unidade de beneficiamento, pois hoje permanecemos em uma unidade improvisada”, conta Ozias.
O grupo de apicultores tem investido na capacitação e melhoria do produto. Ozias explica ainda que vários sócios estão se organizando para deixarem suas atividades principais e se dedicarem exclusivamente à apicultura. Mas além da autonomia financeira, ele garante que um dos principais ganhos ao longo dos anos é a conscientização ambiental das famílias envolvidas.
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“Hoje a gente considera como ganho não somente a parte financeira, mas como um dos maiores ganhos que temos percebido é a conscientização ambiental que as famílias envolvidas têm conseguido.”
Enquanto a Casa do Mel não vira realidade, os produtores firmam parcerias para o processo de produção e divulgação, com expectativa de venda online para todo o país.
Edição: Lucas Weber