DISPUTA

Partidos venezuelanos anunciam alianças para eleições legislativas de dezembro

Setores conservadores buscam unidade e progressistas criam alianças para se separar do bloco governista

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |
A Assembleia Nacional é atualmente composta por 167 cadeiras, já nas eleições de dezembro serão eleitos 277 deputados por voto nominal e por listas. - Resumen Latino

Está aberto, até o próximo 19 de agosto, o período de inscrição dos candidatos e listas de partidos que vão concorrer às eleições legislativas do dia 6 de dezembro na Venezuela. Os partidos, tanto do campo conservador, como do lado progressista já começam a formar alianças eleitorais.

Ao todo, 107 organizações estão habilitadas para disputar as 277 cadeiras da Assembleia Nacional; dessas, 52% serão escolhidas por listas dos partidos e 48% por voto nominal. 

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No lado da oposição, 27 partidos aglutinados em torno do deputado Juan Guaidó e seu partido, Voluntad Popular, convocaram boicote ao processo eleitoral justificando uma possível fraude. A decisão foi publicamente apoiada pela administração Trump. 

No entanto, o anúncio desatou uma crise dentro dos maiores partidos da oposição (Primero Justicia e Acción Democrática), depois que deputados de estados do interior e militantes de base insistiram na importância do processo eleitoral, chegando a denunciar as direções das suas próprias organizações na justiça, exigindo que a democracia partidária fosse respeitada. 

Paralelamente, o Movimento para Socialismo (MAS), um dos partidos que compõe a Mesa de Diálogo Nacional, tenta reanimar uma aliança unitária dos setores de direita e centro-direita, como ocorreu até o ano de 2015, com a Mesa de Unidade Democrática (MUD)

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"Estamos conversando com os partidos da Mesa de Diálogo, Acción Democrática, COPEI, Primero Justicia, Voluntad Popular, com todos aqueles que disseram que poderiam participar. E assim que tivermos um acordo, pretendemos conversar com o abstencionistas para que eles vejam que existe a possibilidade de um acordo. O primeiro que devemos garantir é a unidade, sem isso vai ser muito difícil", afirmou o secretário geral do MAS, Felipe Mujica. 

A igreja Católica, historicamente contrária ao chavismo, também se manifestou. A Conferência Episcopal da Venezuela se pronunciou e convocou "a vocação democrática do povo venezuelano para assumir, com normalidade, a via eleitoral, como a maneira pacífica e racional de estabelecer uma rota política consensuada". 

O atual período legislativo, composto por 70% de opositores, atua em desacato à justiça venezuelana, já que empossaram deputados que tiveram sua candidatura impugnada. Depois disso, o deputado Juan Guaidó ainda criou uma sessão paralalela da Assembleia Nacional, após não ter sido reeleito presidente do Legislativo, em janeiro desse ano. 

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"Do ponto de vista político, esse processo eleitoral é importante porque poderá restituir o que chamamos de Parlamento. A Assembleia Nacional que está saindo foi destruída pelo governo, pelas coisas que tentou fazer e por aqueles que a comandavam", comenta Mujica.

Para o deputado e membro do comitê central do Partido Comunista da Venezuela, Yul Jabour, a paralisia da Assembleia fazia parte dos planos desestabilizadores da direita venezuelana. 

"A Assembleia Nacional se prestou como plataforma para impulsionar todas as políticas contrárias à Nação, para dar justificativa legal à agressão multifacetada do imperialismo contra a Venezuela. E, é claro, um dos elementos que utilizaram foram esses partidos, que elevaram a confrontação dentro do poder público, com a intenção de gerar o caos, uma crise institucional, e abrir espaço para uma confrontação que poderia gerar uma guerra civil e que justificaria uma intervenção estrangeira no nosso país", analisa. 

O PCV é um dos partidos do campo da esquerda que começará a disputar as eleições contra o governante Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Junto ao Partido Pátria para Todos (PPT), Esquerda Unida e Luta de Classes anunciaram a Aliança Popular Revolucionária, que entre outros objetivos, busca desligar-se do Grande Pólo Patriótico - coalizão eleitoral chavista, liderada pelo PSUV.

"A perspectiva do PCV é que essa proposta possa aglutinar um setor amplo que fortaleça a unidade operária, camponesa, comunitária e popular. Estamos trabalhando com as comunas, com sindicatos, com operários em todo o país para que todos conformem essa proposta. A ideia não é que o PCV, o PPT ou outro partido utilizem uma técnica para hegemonizar essa alternativa, mas que seja um ambiente de amplo debate, que possa reunir esses setores revolucionários e anti-imperialistas", afirma Jabour.

Para os representantes da nova Aliança é necessário encontrar saídas revolucionárias para a crise econômica do sistema capitalista.

"Elementos fundamentais dessa aliança: nós identificamos como inimigo número 1 do povo venezuelano o imperialismo norte-americano e europeu", comenta o deputado do PCV.  


Ilenia Medina faz parte de um setor do PPT que pretende permanecer no Grande Polo Patriótico, aliança eleitoral chavista com o PSUV. / Cronica Uno

Para Ilenia Medina, deputada do PPT, as proposições do campo da esquerda têm um caráter construtivo, porque passam pelas críticas internas de cada organização e buscam fortalecer o exercício democrático.

"Na Venezuela, há uma democracia profunda, profunda. Para nós, a democracia não é apenas o voto, mas a participação protagonista na tomada de decisões, na qual os trabalhadores, os comuneiros têm participação. Aqui, inclusive, tentam assassinar o presidente e não acontece nada. Esta é uma democracia excessivamente livre, como disse o Lula em outra oportunidade. Nem remotamente acreditamos que aqui existe uma ditadura, mas há que revigorar o processo revolucionário nas atuais circunstâncias", afirmou Medina.

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A administração de Nicolás Maduro, criticada pela direita e por parte da esquerda venezuelana, tem garantido as condições necessárias para um debate eleitoral aberto. 

Edição: Luiza Mançano