A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou nesta quarta-feira (19) o projeto “Conexão Saúde: de olho na covid”, cujo objetivo é formar parcerias para fortalecer o combate à covid-19 nas favelas na Maré e em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
A ideia é conectar lideranças das comunidades a instituições para o desenvolvimento de ações de vigilância em saúde, a construção de estratégias de distanciamento social nas favelas, a consolidação de modelos de comunicação voltado para emergências em saúde e ações de teleatendimento em psicologia e medicina adequados às condições de populações vulnerabilizadas.
“Queremos impactos de elevação da cobertura dos exames, ampliação da capacidade de testagem, redução de tempo de encaminhamento de sintomáticos, ampliação, ainda temporária, do acesso ao serviço a telemedicina e integração das ações comunitárias”, afirma Valcler Rangel, coordenador do projeto pela Fiocruz.
Rangel explica que a ausência de testagem nas favelas não permite que as análises sobre como tratar o coronavírus nesses locais seja mais precisa. No entanto, ele ressalta que, mesmo com a imprecisão, os dados apontam para uma ”periferização” da doença ao longo do tempo.
Conforme dados apresentados pelo coordenador do projeto, bairros com alta e altíssima concentração de favelas têm maior letalidade pela covid. A população negra é a maioria entre as vítimas.
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Para a pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcomo, referência em doenças pneumológicas, a participação das lideranças no processo de integralização do atendimento à saúde é fundamental para que a população seja assistida.
“Esse projeto traz, sobretudo, o reconhecimento de que as lideranças comunitárias são muito importantes, fundamentais, para que nós consigamos ter acesso a essas comunidades. São legítimas representantes, não só dessas pessoas, como dos problemas que são mais prevalentes nessas comunidades”, comenta.
Margareth defende que o projeto seja mantido nas comunidades mesmo que a pandemia seja controlada e, se possível, que seja replicado em outros lugares do Brasil. “Uma vez que nós consigamos controlar a epidemia, um projeto dessa natureza precisa ter sustentabilidade e continuidade nessas comunidades”, diz.
O médico e escritor Drauzio Varella, que participou da aprovação do projeto, conta estar otimista com o resultado. “Eu estou muito interessado neste trabalho, ver como vai funcionar, de que maneira isso pode ser repetido pelo Brasil afora, não só nesta epidemia, como em muitas outras situações de saúde que nós temos no país”.
Drauzio ressalta que ainda não há perspectiva de que a epidemia no Brasil seja controlada. “Quando você olha na rua, vê aquelas pessoas todas sem máscara, fazendo ‘bolo’ na porta de bar, aglomeração, gente fazendo festa, isso significa que a epidemia vai continuar a acontecer por muito tempo ainda, muitos meses”.
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Para Eliana Souza Silva, da ONG Redes da Maré, o projeto abre possibilidade para que o direito à saúde seja cumprido aos moradores das favelas, muitas vezes impossibilitados de acatarem a protocolos que evitem a contaminação pelo coronavírus.
“As pessoas que moram em favelas e na periferia, em geral, têm dificuldades para cumprir esses protocolos como eles são ditos, como foram divulgados. Entendo a importância desse projeto para que os moradores dessas favelas possam ter uma opção, serem reconhecidos no seu direito à saúde, na possibilidade de olhar para esse processo”, declara Eliana.
Patrícia Evangelista, do conselho comunitário de Manguinhos, comemora a chegada do projeto e diz torcer para que ele se mantenha por bastante tempo nas comunidades. “Trazer isso vai nos dar, também, a possibilidade de tratar possíveis sequelas. A gente não sabe o que essa pandemia, a covid-19, pode deixar na vida das pessoas”, afirma.
Edição: Leandro Melito