Maranhão

Com ano letivo perdido, escolas do campo lutam para manter turmas e garantir ensino

MST descarta volta às aulas durante a pandemia, mas apresenta alternativas para o ensino híbrido no Maranhão

Brasil de Fato | Imperatriz (MA) |
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"A luta foi feita com amor, com as crianças, com a família. Foi bonito." avalia Tuíra Tule, da coordenação do acampamento - Cássio Diniz

Com as aulas à distância impostas pela pandemia do novo coronavírus e a dificuldade de acesso à internet nas áreas rurais, professores e alunos têm se esforçado em busca de alternativas para garantir o ensino.

O setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Maranhão tem acompanhado a situação das escolas do campo e se reunido com os governos municipais e estadual, no sentido de dar suporte à comunidade escolar e encaminhar propostas de acordo com a realidade de cada município.

:: "Estudantes sobem em caixa d'água e árvore para conseguir sinal", diz professora ::

“Sentamos com a Secretaria de Educação [do Estado] e sugerimos algumas alternativas. Que dentro do reordenamento de turmas, nenhuma turma de educação do campo seja fechada, e que além da garantia de entrega dos materiais, sejam impressos ou por meio de computadores, pedimos também a garantia de que nenhum educador e educadora perca o contato com os alunos”, explica Leda Ribeiro, professora e dirigente do setor.

Ribeiro descarta a possibilidade de retorno presencial às escolas em 2020 e ressalta que o MST seguirá construindo junto com o estado a proposta de readequação do calendário escolar, mantendo os alunos com acesso à educação. Ela considera, porém, que em 2020 não tem condições de os alunos do campo passarem de ano.“Consideramos que nesse ano os alunos não tiveram o aprendizado necessário", avalia.

Propostas

No Centro de Educação do Campo Roseli Nunes, vinculado à pedagogia do Movimento Sem Terra, foram detectados três tipos de públicos: estudantes com celular e acesso à internet; estudantes com celular e acesso parcial à internet e estudantes sem celular e sem conexão à internet.

Diante do diagnóstico, foram pensadas algumas alternativas que pudessem acolher todos os públicos e a escola adotou todas elas para avaliar a viabilidade.

O grupo um segue com aulas online por meio de plataformas de vídeo, o grupo dois recebe atividades em PDF ou outros formatos e o grupo três visita a escola presencialmente a cada 15 dias para coletar as atividades impressas.

Além disso, a equipe pedagógica sugeriu ao governo do estado a distribuição de pendrives para que os pais possam levar materiais de suporte em vídeo para casa, uma vez que, mesmo que recebam chips, nessas áreas não tem sinal das operadoras para acesso à internet.

Mesmo com a entrega de material impresso, o movimento reforça a necessidade de acompanhamento dos educadores. “Os educadores e as famílias avaliam que esse pai, por ser um pai analfabeto e pelo grande volume de atividades, ele não tem como fazer esse acompanhamento pedagógico para o filho”. 

Distribuição de chips

Na tentativa de driblar a falta de acesso à internet, uma das medidas adotadas pelo governo do estado do Maranhão foi a distribuição de 90 mil chips com 20GB de internet aos estudantes do 3º ano, em fase de preparação para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

A distribuição teve início no dia 6 de agosto e os alunos terão disponível o acesso à internet até janeiro de 2021, quando serão realizadas as provas do exame. No entanto, a medida não alcança os alunos do campo, que em muitos assentamentos não dispõem de rede de telefonia móvel.

Projeto de 4º ano opcional

O projeto pedagógico maranhense está pronto e em fase de regulamentação. O 4º ano opcional para estudantes do ensino médio tem o objetivo de reduzir as perdas na formação educacional, evitar a evasão escolar e proporcionar melhores condições de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele prevê conteúdo idêntico ao que seria ofertado presencialmente no 3º ano, além de merenda e material didático.

Retorno presencial

Com base em consulta à comunidade escolar, que envolveu responsáveis e estudantes do 3º ano do ensino médio, o governo do estado decidiu suspender o retorno das aulas, que estava previsto para o dia 10 de agosto. De acordo com a pesquisa, 58% das famílias e quase 43% dos alunos não consideraram viável o retorno das aulas nesse momento.

Em coletiva realizada no dia 31 de julho, o governador Flávio Dino garantiu que as aulas presenciais só serão retomadas quando as famílias, os estudantes e os professores perceberem que é seguro a volta às escolas. Já em relação ao ensino fundamental, de responsabilidade dos municípios, o retorno fica a critério de cada prefeitura, considerando a realidade local.

Ainda sem nova previsão de retorno, o planejamento pedagógico prevê a adesão ao modelo híbrido, com aulas presenciais e online, além de rodízio de alunos.

Campanha

Nesta quinta-feira (20) acontece o lançamento nacional da campanha "Volta às aulas na pandemia é crime", idealizada pelo MST. O ato político de lançamento será realizado às 15h, nas redes sociais do movimento. 

O objetivo da campanha é fazer a defesa da vida e da educação pública, chamando atenção para os riscos do retorno às aulas presenciais aos estudantes e trabalhadores da educação em geral, além de risco de contágio a milhões de pessoas envolvidas no círculo social. 

Durante a campanha, serão realizadas ações de conscientização e denúncia, atos políticos online, apoio aos esforços de outros movimentos e coletivos educacionais, além de acompanhamento político de propostas em todo o país. As ações serão realizadas conforme a realidade de cada estado. 

Edição: Leandro Melito