Período de pandemia. Surgem muitas teorias, remédios milagrosos, falsas notícias que deixam a população mais desesperada por uma solução que, já está claro, não será rápida nem instantânea. A esperança, no entanto, insiste e reside na ciência, atualmente presente em qualquer informativo.
No Brasil os grandes centros de pesquisa foram sucateados, mas muitos países seguem perseguindo uma vacina. É o caso de Cuba, que de forma épica consegue ser o único país em desenvolvimento a ter seu teste clínico autorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Não é pouca coisa. Não somente por se tratar de um país pobre, mas um país bloqueado e com poucos recursos. Somente 14 países do mundo tiveram tal autorização - menos de 20% dos projetos foram aprovados.
Dentre as dificuldades encontradas, o bloqueio impede a compra de proteínas para que se fabrique os reagentes e a solução encontrada pelos cientistas cubanos foi utilizar plataformas já existentes para conceber uma vacina e assim ganhar tempo, aproveitando que a crise também gerou grande quantidade de informações científicas em pouco tempo e de maneira gratuita.
Um ponto vital dentro do funcionamento da sociedade cubana é a unidade. Com a pandemia, a aliança entre instituições se fortaleceu. Dessa forma, o Instituto Finlay de Vacinas, o Centro de Imunologia Molecular (CIM) e a Universidade de Havana (aliados ao Ministério de Saúde Pública e ao laboratório cubano Biofarma) trabalhando e pesquisando juntos chegaram a essa grande vitória: a Soberana 01– o nome da vacina cubana.
Nesta segunda-feira (24) começa o teste clínico com a vacinação de 676 pessoas - selecionadas de forma rigorosa - entre 19 a 80 anos e que se estende até fim de novembro. A partir de janeiro/fevereiro de 2021 será constatado o resultado e a eficácia do medicamento. Claro que tudo está sendo feito com muita cautela, mas os meios de comunicação mal divulgam essa possibilidade. Um medicamento aprovado pela OMS começa a ser testado. É uma esperança e deveria ser notícia.
Alguns outros fatos desta semana sobre o assunto: a importância da façanha em qualquer outro país seria divulgada pelo Presidente da República para colher os “louros” da vitória. No entanto, foi o chefe do projeto científico quem anunciou o resultado dessa empreitada. O presidente cubano, Diaz Canel, humildemente agradeceu aos cientistas e reconheceu o trabalho de todos na empreitada - em seu nome e de milhões de cubanos.
Diaz Canel em ocasião anterior pediu a esses mesmos cientistas que trabalhassem na obtenção de uma vacina para garantir a soberania de Cuba no acesso ao medicamento. Por esse motivo os cientistas ‘batizaram’ a vacina de Soberana, em homenagem àquelas palavras de presidente.
O programa Mesa Redonda da televisão cubana do dia 20 divulgou o processo da vacina com detalhes técnicos, assista aqui :
Por último, mas não menos importante, para quem não puder ver o programa, um dos convidados, o doutor em Ciências Vicente Vérez Bencomo – assim como os demais cientistas – dedica o resultado da pesquisa à Fidel Castro :
“Se não fosse a Revolução eu não poderia ter estudado nem ser cientista.”
* Coordenadora do Capítulo Brasil do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos.
Edição: Rodrigo Durão Coelho