A cantora, compositora e cientista social Regiane Araújo prepara seu primeiro videoclipe, com a música “Tirem as Cercas”. Na composição, ela aflora reflexões sobre o racismo e a violência contra os povos tradicionais no Maranhão, um dos estados mais marcados pela opressão e impactos de grandes projetos minerários, pecuários e extrativistas. Com lançamento oficial agendado para dia 11 de setembro, o pré-lançamento do single e videoclipe acontece nesta sexta-feira (28), às 20h, no instagram da artista.
O alento para a composição se deu a partir de um compilado de experiências vividas pela cantora através do grupo de pesquisas do qual faz parte, o LIDA - Lutas Sociais, Igualdade e Diversidade. O grupo tem forte atuação junto aos movimentos sociais da região e Araújo relembra uma dessas vivências, em que conversou com uma liderança do Movimento Quilombola do Maranhão (MOQUIBOM), durante uma ocupação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em 2015.
“Ele me trouxe várias imagens do território dele, do quilombo, que eram dos babaçuais cortados, das vegetações devastadas por tratores de fazendeiros que diziam ser donos do território. À medida que ele foi me mostrando as fotos, ele foi chorando e aquilo marcou muito, porque foi uma das primeiras conversas fortes que eu tive com uma liderança quilombola”, lembra.
Um dos trechos retrata esse diálogo e a dor compartilhada.“No corredor queria apenas desabafar e corre a dor que silencia quem quer falar... você escuta do lado de dentro de todo perigo da vida de todo absurdo. Do lado de fora sofremos na pele o racismo, o machismo, a sujeira do mundo”, reproduz a artista.
Com produção e direção da Guajajara Filmes e RZK Filmes, o lançamento oficial do videoclipe está previsto para setembro, em todas as plataformas digitais. A parceria surgiu a partir de um desafio pessoal da produtora Thaís Lima, que durante a pandemia se propôs a trabalhar novos formatos e reflexões e durante uma live da cantora, enviou o convite ao vivo.
“A gente aproveitou esse tempo para produzir, para trazer algo interessante durante a pandemia. Tanto a letra da música, quanto tudo o que foi construído dialoga com o que a gente está vivendo, que é um desassistir. Não há uma assistência para os povos e comunidades tradicionais. Então a gente teve um cenário muito violento do final do ano passado e começo desse ano contra lideranças indígenas que foram assassinadas aqui no Maranhão”, explica Araújo.
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As imagens do videoclipe, em ritmo de reggae, foram feitas em seis ambientes e reforçam o direito pela terra. Elas foram gravadas em lugares simbólicos de resistência na região. O lugar, a casa e o lar são componentes da letra, marcada também pela lembrança fotográfica da entrada da aldeia de Ipu, do povo indígena Guajajara, com paredes de matas e flores:“tirem as cercas, deixem as flores que pintam de todas as cores toda a liberdade da paz do lar: território livre já!”, diz o verso.
O processo de produção, desde sua concepção até a montagem de figurino, que conta com dez pessoas no set e vinte diretamente envolvidas, foi possível graças aos recursos arrecadados de lives e uma rede de apoio de mais de trinta pessoas.
O pré-lançamento online terá a participação física de alguns colaboradores, seguindo os protocolos de segurança.“É uma troca simbólica. Tem um custo muito alto da produção do videoclipe que eu preciso me desdobrar e me movimentar para arrecadar recursos para isso, e os meus maiores apoiadores têm sido as pessoas que tem ajudado até agora”, conta Araújo.
Edição: Leandro Melito