Em meio a pandemia, a máscara se tornou uma grande aliada para evitar o contágio do novo coronavírus. Mas o Equipamento de Proteção Individual (EPI) descartável também pode gerar um aumento significativo no volume de lixo.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a máscara descartável seja trocada a cada duas horas de uso e a hospitalar a cada oito horas.
A estimativa da Sociedade Americana de Química é que mensalmente sejam jogadas no lixo 129 bilhões de máscaras e 65 bilhões de luvas em todo o planeta.
Além dos riscos de contaminação pelo vírus da covid-19, que se mantém vivo por até três dias em plásticos, o material pode causar impactos ambientais quando destinado a aterros ou à incineração, com possível emissão de poluentes no ar. O custo de descarte seguro é alto e muitas vezes o resíduo chega nos rios ou no mar, atingindo a biodiversidade.
Para tentar conter as consequências da utilização excessiva, mas necessária de equipamentos, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manaus, chegou a desenvolver a tecnologia de uma caixa esterilizadora que permite a reutilização dos EPIs.
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A caixa tem capacidade de desinfectar 25 unidades em menos de 10 minutos e, de acordo com a pesquisa, o custo unitário da desinfeção é 20 a 30 vezes mais baixo em relação ao valor de compra de novas máscaras hospitalares do tipo N-95. O projeto ainda está em fase de adaptação para o mercado.
O diretor do Instituto Lixo Zero Brasil, Rodrigo Sabatini, explica que de modo geral o lixo hospitalar, produzido nas unidades de saúde, tem um destino correto através de empresas e indústrias que fazem a desinfecção, depois encaminham para aterros ou incineração. O problema é a máscara descartável sem o descarte adequado.
“Quando a população compra máscara descartável nós temos um problema e esse problema nada mais é do que uma extensão do nosso comportamento com outras coisas. Porque quem descarta uma máscara na natureza é a mesma pessoa que descarta uma latinha, o papel, de forma irresponsável. Nesse caso, nós temos um grande impacto porque houve um aumento desse material na natureza”, pontua ele.
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Um outro problema é que, segundo o especialista, cerca de 50% das cidades brasileiras não possuem aterros sanitários, mas sim lixões à céu aberto que podem contribuir para um impacto dos descartáveis a médio e longo prazo.
Para saber mais sobre esse tema, o Brasil de Fato conversou com o Sabatini sobre o impacto do uso das máscaras para o meio ambiente.
Confira a entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: o que fazer com todo esse lixo hospitalar produzido em larga escala mundialmente?
Rodrigo Sabatini: O lixo hospitalar na verdade já tem uma destinação adequada em quase todo o território, ele ou vai ser reciclado ou incinerado. Já existe um controle no Brasil de todo o lixo que sai das unidades hospitalares, quer seja um consultório médico, odontológico ou um hospital.
Já existe um tratamento adequado para o lixo hospitalar, que é um lixo perigoso e contaminante. O que nós temos agora é um aumento do volume desse material. Não vejo um grande problema nos países industrializados, que têm uma infraestrutura maior, para dar destino a isso. O que aumenta bastante vão ser os custos do hospital no encaminhamento já que o lixo hospitalar tem um custo altíssimo de tratamento.
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Quais os impactos desses descartes a médio e longo prazo?
Eu acho que nós temos que dividir os problemas. Nós temos um problema que é o lixo hospital, que está dentro de uma unidade de saúde e está sendo utilizado por profissionais de saúde. Não é o lixo que está indo para o mar. Esse lixo tem encaminhamento correto, vai para uma empresa que coleta e dá destino. Até por ser caro, ele movimenta bastante dinheiro no país.
O problema que está acontecendo é o uso pela população de máscaras descartáveis que a população não sabe como dar o destino. Ela não tem acesso a esses pontos de entrega e destinação correta, e acaba descartando de qualquer maneira. É diferente das máscaras que a gente está usando, que são reutilizáveis, que a população usa normalmente.
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Quando a população compra máscara descartável nós temos um problema e esse problema nada mais é do que uma extensão do nosso comportamento com outras coisas. Porque quem descarta uma máscara na natureza é a mesma pessoa que descarta uma uma latinha, o papel, de forma irresponsável. Nesse caso, nós temos um grande impacto porque houve um aumento desse material na natureza.
Nós temos duas visões sobre a pandemia e o uso da máscara. Tem muito haver com a ética e o comportamento das pessoas. Como eu disse, a mesma pessoa que joga fora é a mesma pessoa que não se importa com o outro. Essa pessoa não tem nenhuma empatia, nenhuma preocupação com a sua comunidade, com a sua sociedade e planeta.
O que a pandemia trouxe, no meu entender, é uma preocupação, conscientização do nosso papel perante a sociedade. O uso da máscara quer dizer que você está tendo um cuidado com o outro e com a sociedade. Temos ai desvios que são os descartes.
Em relação ao lixo hospitalar, o Brasil tem lidado bem com esse material? Como é esse processo de descarte?
Em todo hospital ou consultório já existe um sistema onde o profissional vai descartar luvas, avental, seringas, os remédios, materiais infectantes, onde normalmente o hospital tem um autoclave, que é uma máquina que vai dar um tratamento térmico a esse material sem destruí-lo. Apenas para inibir as atividades biológicas e depois isso vai para um aterro ou incineração. Esse processo já existe em todos os hospitais e em todos os consultórios, é uma obrigação da vigilância sanitária.
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Principalmente no início da pandemia havia uma distribuição maciça por parte dos governos dessas máscaras isso acabou causando um monte de abandono e de descarte incorreto. Isso também pode ocorrer nas cidades pequenas onde temos que entender que no Brasil 50% do resíduo normal do nosso lixo é jogado a seu aberto, em lixões. Metade das cidades não têm aterro sanitário e certamente essas pequenas cidades, muitas delas não têm tratamento adequado para os resíduos de saúde. Ali eu acho que pode ter um problema no descarte.
Como descartar de maneira adequada as máscaras descartáveis utilizadas pela população?
Já que ela que usou pode colocar dentro de um saco plástico que possa acumular por um período, até que possa encaminhar para um posto de saúde, algum estabelecimento que trabalhe com a saúde, que poderá dar um encaminhamento correto.
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Na verdade, ela deve evitar todo tipo de descartável ou material de uso único não só a máscara. Deve evitar o copinho plástico, talher, tudo aquilo que vai usar uma única vez. Porque o ciclo de vida dela é muito longo, um plástico vai durar de 200 a 400 anos no planeta. Não tem sentido você usar por 10 segundos no caso de um copo plástico ou no caso de uma máscara duas horas e depois você abandona.
Se possível deixe esse material para os profissionais de saúde, eles precisam ter esse cuidado de trocar todo momento, até porque eles estão cuidando da nossa saúde.
É uma questão de hábito, responsabilidade com os outros. Se puder ter a sua máscara, que você chega em casa e lave com água quente, sem precisar descartar, seria o comportamento adequado e correto. É o mesmo comportamento que se espera de alguém consciente também com os outros materiais, que não use o descartável, mas o duradouro.
De quem é a esta responsabilidade pelos resíduos?
A Lei 12.305 que diz que o governo, empresas produtoras e distribuidoras e o consumidor são co-responsáveis, começando pelo consumidor que decide consumir e é dele o primeiro passo para mandar esse material de volta para a cadeia produtiva, dar o encaminhamento correto e seguro a esse material.
Ninguém vai entrar na sua casa para pegar o resíduo, você que tem que encaminhar e levar até algum ponto de entrega seja de resíduos hospitalares, no caso da máscara, ou dos outros materiais recicláveis, que devem ser encaminhados a associação de catadores, ou outros materiais que sejam perigosos, como pilha, óleo, você deve encaminhar ao ponto de coleta mais próximo. Mas nunca misturar com tudo, nunca encaminhar para o aterro, porque você está tirando a possibilidade técnica e econômica de separação desses resíduos e encaminhamento correto.
Edição: Rodrigo Durão Coelho