O povo Xikrin perdeu a liderança Bepkot Kayapo Xikrin, de 78 anos, conhecido como Cacique Onça. Ele era da aldeia Pytakô, da Terra Indígena Trincheira/Bacajá, em Altamira, no Pará. O ancião passou 24 dias internado no Hospital Regional de Altamira, chegou a ser entubado, mas não resistiu às complicações da covid-19. A morte foi confirmada na segunda-feira (31).
Bepkot não falava português, apenas seu idioma nativo. Ele foi uma liderança de destaque na defesa de seu povo contra ameaças, desde queimadas e grilagem à usina hidrelétrica de Belo Monte.
Seu sobrinho, Yann Xikrin, de 24 anos, afirma que são muitas as lutas dos seus parentes, não apenas contra a covid-19, mas também a preservação do ambiente e contra o preconceito. Ele lamenta que governo não seja capaz de reconhecer a importância dos povos indígenas.
"A perda de um ancião nosso não é simplesmente uma morte de uma pessoa. É toda uma história cultural, todo o ensinamento que vai embora. Eles são os guardiões da nossa cultura. Nós já sofremos tanto na época do colonizador e ainda sofremos. Então, queremos que os governos respeitem mais a nossa cultura", diz Yann.
A terra indígena tem em seu limite leste as rodovias Belém-Brasília (BR-010) e a PA-150, entre Belém, Redenção e São Félix do Xingu.
O território é fruto de conflitos devido a fronteira agropecuária, o que facilita o acesso a atividades ilegais como a extração de madeira, pesca e garimpo dentro de seus limites.
Segundo informações oficiais do Distrito Sanitário Especial Indígena de Altamira (DSEI), a região contabilizou 429 casos confirmados da covid-19.
A TI Trincheira/Bacajá conta com diversas aldeias, entre elas, Mrotidjam, Bacajá, Pytakô, Potkrô, Kamoktikô, Pykayaká, Krayn e Kenkudjoi, das etnias Apiterewa, Araweté, Assuriní e Xikrin. Segundo o último dado da Funai de 2011, há 746 indígenas no território.
Edição: Rodrigo Durão Coelho