Em menos de 15 dias, São Paulo será ocupada pelo debate eleitoral novamente, que pode se estender até dia 29 de novembro - se tivermos segundo turno -, quando o município conhecerá seu 64º prefeito.
Se a pandemia do coronavírus determinará aos candidatos uma nova rotina de campanha, o resultado não deve trazer novidades no comando da capital paulista.
Cientistas políticos escutados pelo Brasil de Fato acreditam que a conjuntura política atual pode gerar mais uma derrota à esquerda e garantir a manutenção de algum representante do centro ou da direita no poder.
Minoria entre os 15 pré-candidatos, os representantes de partidos de esquerda terão que escolher entre Guilherme Boulos (PSOL), Jilmar Tatto (PT), Orlando Silva (PCdoB) e Vera Lúcia (PSTU).
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Divulgada no dia 21 de agosto, a última pesquisa de intenção de votos para a prefeitura paulistana, feita pela Paraná Pesquisas, mostra o pré-candidato Celso Russomano (20,5%) e o atual prefeito Bruno Covas (20,1%) empatados tecnicamente em primeiro lugar.
Mais de dez pontos percentuais atrás, estão as pré-candidaturas de Marta Suplicy (SD) com 9,8%, Paulo Skaf (MDB) 8%, Márcio França (PSB) 7,6%, Guilherme Boulos (PSOL) 6,2%, Jilmar Tatto (PT) 2,3%, Andrea Matarazzo (PSD) 2,1%, Arthur do Val (Patriota) 1,9%, Levy Fidelix (PRTB) 1,1%, Joice Hasselmann (PSL) 1%, Vera Lúcia (PSTU) 0,9%, Orlando Silva (PCdoB) 0,8%, Filipe Sabará (Novo) 0,5% e Marcos da Costa (PDT) 0,3%.
Em julho, uma pesquisa do Instituto Big Data colocou Boulos em terceiro com 11% das intenções de voto, mais que Marta Suplicy (9%). À frente, estavam Covas (30%) e França (16%). Um cenário projetado sem Celso Russomano é ainda mais pessimista para o candidato petista, que aparece com apenas 1%.
“Creio que a esquerda não terá vida fácil nas eleições paulistanas deste ano" analisa Cláudio Couto, que é coordenador do Mestrado em Gestão e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele acredita que a ex-prefeita ainda está forte na memória do eleitorado, "mas isto está se refletindo mais em rejeição do que em intenção de voto. Marta paga o preço de ‘ser PT’ e, ao mesmo tempo, de ‘não ser PT’".
Para Couto, parte dos votos conquistados pelo PT nas eleições anteriores migrarão para Boulos, que é o candidato com maior projeção na esquerda. O pesquisador também não acredita que Orlando Silva deva crescer na disputa e destaca que Tatto enfrenta resistências, inclusive, no próprio partido.
O cientista político José Antonio Moroni, que integra a Plataforma dos Movimentos Sociais Pela Reforma do Sistema Político, também avalia que a divisão entre os partidos de centro-esquerda enfraquece as candidaturas. "Nenhum partido no campo da esquerda deve se colocar como hegemônico, isso passa por recuar de algumas candidaturas. Ou a esquerda se une para ter um peso político no debate eleitoral, ou fragmenta ainda mais e a eleição acabará com a esquerda totalmente varrida em São Paulo", avalia.
Temas nacionais
São Paulo, por onde passa 10% do PIB nacional, convive com problemas crônicos, como o deficit de 9 mil vagas em creches, estimado pela própria prefeitura, a falta de um teto para um milhão de paulistanos, de acordo com levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ou mesmo o transporte público que sofre reajustes anuais, sem que a população sinta melhorias no serviço.
Este ano porém, o debate regional pode ser preterido por temas nacionais, contrariando o histórico da capital paulista.
“As eleições municipais são historicamente marcadas por debates locais, embora episodicamente sejam afetadas pelo clima político nacional", avalia Couto.
Na avaliação do cientista politico, o clima da política nacional influiu no pleito municipal em 1988, a favor do PT, com a eleição de Luiza Erundina e em 2016 contra o partido, quando Fernando Haddad foi derrotado por João Doria sem segundo turno, não conseguindo se reeleger.
Couto acredita que este ano o antipetismo pode se repetir, "de uma forma ainda pouco definida". "Considerando que Bolsonaro polariza não só com o PT, mas com quase todo mundo, acho que o cenário está propício para candidatos mais centristas e tradicionais”, aponta Couto.
Apoio no segundo turno
Pelo Twitter, o presidente Bolsonaro (sem partido) já anunciou que só apoiará candidatos no segundo turno do pleito. Mas “o que Bolsonaro diz, não se escreve. Hoje ele diz isso, amanhã pode dizer outra coisa", avalia Moroni.
Ele não crê que a ausência física do presidente vá fazer com que seu governo e suas ações fiquem de fora da disputa.
“Há uma agenda conservadora muito consolidada na nossa sociedade nesse momento. É uma agenda que o governo Bolsonaro impôs. Mais do que o Bolsonaro, eu acho que o que ele representa e o discurso dele vão nortear as eleições. Não sei se será o fator preponderante, mas deve influenciar e pautar os debates entre os candidatos."
Em São Paulo, ainda não há um candidato bolsonarista. Representante do PSL, ex-partido do presidente, a deputada federal Joice Hasselmann,que é uma liderança forte da sigla no município e foi confirmada como candidata na última segunda-feira (31), seria a herdeira imediata dos eleitores do presidente.
Porém, a parlamentar passou, sem escalas, de aliada de primeira fileira , à condição de inimiga da família Bolsonaro.
Entre os quinze postulantes ao cargo em São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) é o mais acessível ao presidente, segundo Couto.
"O França, apesar da aliança com o PDT, flerta com o bolsonarismo, mas duvido que tenha apoio dos bolsonaristas raiz, apesar de sua rixa com Doria, que virou desafeto do presidente da República. Por tudo isso, e também pela proximidade de Bolsonaro e família com o conglomerado IURD [Igreja Universal]-Record-Republicanos, minha aposta é que ele acabe, ainda que sem grande entusiasmo, apoiando Russomanno”, finaliza.
Edição: Leandro Melito e Rodrigo Durão Coelho