O papel dos influenciadores não é novo. Na sociologia, desde os anos 40, é estudado que a formação da opinião pública não acontece de uma forma direta. Ela é mediada por pessoas com influência em suas comunidades, que processam as informações e repartem entre seus pares.
Na política, a introdução das redes sociais e o surgimento de figuras públicas - especialmente em redes como o Twitter e o Facebook -, fizeram dos influenciadores digitais proeminentes no debate público sobre a crise e o contexto brasileiro, rivalizando até mesmo com o poder das grandes emissoras hegemônicas.
“O fenômeno das mídias sociais, ao descentralizar a informação, ao fazer essas formas de comunicação mais distribuídas, apenas evidenciou o papel deste, e talvez tenha empoderados esses atores. é uma coisa que funciona na política, mas também no marketing”, explica Pablo Ortellado, professor de Gestão Pública da Universidade de São Paulo (USP).
Em 2020, pesquisas recentes sobre o tema apontam que grande parte dos influenciadores políticos têm público mais à esquerda. Um levantamento feito pela Folha de São Paulo, por exemplo, que analisa a posição ideológica de mil figuras públicas no twitter desde maio do ano passado, constatou que 66% das contas se deslocaram da direita para o centro, em 2020.
Ortellado avalia que lavajatistas impulsionaram a debandada, mas não vê o enfrentamento à pandemia pelo Governo como um elemento determinante.
“Principal fator foi as disputas no PSL, que levaram a rompimentos no partido e saída do Sérgio Moro, que dissociou o lavajatismo do Governo, ou pelo menos parte dele. Acompanhando esse campo intermediário, eu não vejo o tema da covid como um elemento marcador, acho que tem mais haver sobretudo com os traços autoritários, que certos setores liberais rejeitam, e o envolvimento com a corrupção ou falta de compromisso para combater a corrupção, para esse setor mais lavajatista”, afirma o pesquisador, que também é colunista da Folha.
A perda de apoio do presidente nas redes, no entanto, não significa uma queda de seu respaldo popular. Pelo menos é o que revela a última pesquisa do Datafolha de agosto, que mostra Bolsonaro no auge de sua popularidade, com 37% dos brasileiros considerando seu governo ótimo ou bom.
Doutor em Ciências Políticas pela USP, Vinícius do Valle minimiza o aumento da popularidade do presidente, apesar de acreditar que o bolsonarismo deve influir sobre as eleições municipais deste ano.
“Entre as faixas de renda mais baixas houve uma aproximação que não tinha antes. Quando a gente vai ver estes dados, a gente vê que o apoio dele ainda é muito reduzido se comparado a outros governos, comparado com outros políticos, inclusive. Eu tenho por certo que vai ter uma influência do presidente e da rede que o sustenta, pelo menos nas principais cidades brasileiras. Também vamos ver uma disputa dentro das próprias forças políticas para dizer quem é mais Bolsonaro”, afirma do Valle, que integra uma equipe que está pesquisando o bolsonarismo para a Fundação Friedrich Ebert Stiftung.
A guerra criada pelo bolsonarismo, na opinião do cientista política, envolve a criação de uma política do imediatismo, um modo de governar que não permite planejar um futuro projeto de país.
“Eu acho que o objetivo final do Bolsonarismo é a destruição da institucionalidade brasileira. Para quem está preocupado com o que a sociedade conseguiu avançar nas últimas décadas, a gente vê isso como uma tentativa de destruição total dos avanços na área social, na área institucional, e ele tem como modelo uma sociedade de pessoas fazendo a sua própria segurança, e fazendo o seu próprio sustento, sem nenhum tipo de direitos. Um nível de integração social bastante degradado”, considera.
Edição: Rodrigo Durão Coelho