nome é a junção de Quilombo, enquanto território de resistência, com baque, de percussão
A arte e a cultura servem como canais para mergulhar nas muitas histórias de resistência preta no Brasil. As músicas, danças e oralidades, por exemplo, serviram tanto contra a escravização nos latifúndios nos séculos passados como podem servir de oposição ao contemporâneo genocídio da juventude negra.
Em 2005, por exemplo, a existência de um grupo de percussão no bairro de Perus, em São Paulo (SP), resultou no surgimento da Comunidade Cultural Quilombaque. O nome é a junção de Quilombo, enquanto território de resistência, com baque, de percussão. Neste mês de setembro, o espaço completa 15 anos de existência.
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Da afinação dos tambores, o Quilombaque ampliou suas proporções. Hoje há atividades de teatro, música, circo, capoeira e dança, organizada por moradores e moradoras do próprio bairro. A proposta é manter viva a troca de ideias e conhecimentos sobre a vida na periferia e a afirmação da negritude. O artista Clebio Ferreira, conhecido como Dedê, afirma que o Quilombaque é uma referência da cultura preta na capital paulista.
"Hoje a Quilombaque tem uma importância muito grande no bairro, não só em Perus, mas eu acho que na região como um todo. Isso por ser um espaço de referência da cultura periférica, cultura negra. E também por ser um espaço onde as pessoas podem criar, produzir e desenvolver sua arte", afirma Dedê.
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O Centro Cultural está de mãos dadas com outros projetos, a exemplo das ocupações culturais do Espaço Canhoba e da Casa do Hip Hop, ambas no bairro dos Perus. Mais recentemente, foi criado também um museu territorial e aberto, registrando algumas das memórias de luta do bairro.
"Aqui houve a luta dos Queixadas, a primeira fábrica de cimento do Brasil e onde teve a maior greve durante a Ditadura, foram 7 anos. Aqui também é o local da aldeia indígena Jaraguá, a Comuna Irmã Alberta do MST e a vala comum — que foi descoberto os corpos de desaparecidos políticos que a polícia matou. Então aqui tem várias história, e são elas que traçaram nosso caminho", cita Dedê.
Esse conhecimento sobre o território e sobre as identidades culturais remetem a uma proposta de "aquilombar-se", nas palavras de Dedê. Ou seja, como uma história que anda para frente, mas não perde vista o passado de um experiência concreta dos Quilombos. Portanto, os sonhos e realizações de lutou diretamente contra a escravização pulsam no cotidiano de um país carregado de poderes coloniais.
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"A gente se aquilombar, se unir, se reconhecer como negro é uma luta grande. Porque a gente tá em luta há mais de 500 anos, antes desse país existir a gente já tava em luta. A luta negra no Brasil, hoje, é o reconhecimento do negro no seu lugar. A gente luta por direitos básicos, sabe? Direto de estudar, de comer, de poder sair na rua e não tomar 'enquadro'", explica Dedê.
Além das histórias de lutas dos povos, a própria sede do Quilombaque precisa da coletividade para resistir. Quinze anos atrás, o espaço estava abandonado e foi ocupado e transformado em um importante espaço cultural ao longo do tempo.
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Porém, no mês de julho deste ano, em plena pandemia do coronavírus, o Quilombaque foi intimado a comprar o terreno do seu espaço físico ou sofrer um despejo. Por isso, campanha na internet #FicaQuilombaque está mobilizando recursos para manter vivo o espaço.
"É de extrema importância a gente manter esse espaço, esse quilombo vivo na periferia. A especulação imobiliária não pode nos calar", explica Dedê.
Para encontrar a campanha nas redes sociais, basta digitar #FicaQuilombaque. Uma conta de vaquinha virtual está aberta na proposta de atingir a meta de R$ 230 mil. Para contribuir, você pode acessar o site clicando aqui.
Os contatos do centro cultural são [email protected] ou o telefone (11) 93354-0754.
Edição: Lucas Weber