O objetivo realmente é modificar essa relação com a nossa comida através da educação do alimento
Se você está com com fome e pouco dinheiro, e é morador do Morro da Babilônia, no Leme, na zona sul do Rio de Janeiro, talvez dê a sorte de encontrar uma receita prática, gostosa e acessível pelas muros das ruas e vielas.
O projeto Receitas ao Ar Livre surgiu assim: do lado do boteco, o Chá da Ressaca; perto da Unidade Básica de Saúde, os sucos e chás que fazem bem para o corpo e mente; virando a rua da padaria, uma receita de bolo de casca de banana e geleia de casca de tangerina.
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Como afirma Regina Tchelly, fundadora do projeto, engana-se quem acredita que não é possível fazer comida orgânica, vegana, saborosa e com pouco dinheiro. “Quando faço minha salada de repolho, as pessoas até esquecem que não tem carne no prato, e ainda uso diversas plantas comestíveis que temos de graça”, afirma Tchelly.
Tudo começou com uma tentativa não muito sucedida de publicar um livro de receitas. A ideia inicial não deu certo, e Tchelly viu nas paredes de seu bairro, onde mora há 19 anos, a possibilidade de espalhar receitas acessíveis, com o objetivo de democratizar a “comida de verdade”, do talo até as folhas e frutos.
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“O objetivo realmente é modificar essa relação com a nossa comida através da educação do alimento. Qual destino a gente entrega a esse alimento? A nossa missão é democratizar a comida de verdade para que as pessoas cada vez mais tenham acesso”, afirma a fundadora do projeto.
O projeto faz parte do Favela Orgânica, também fundado por Tchelly, que além do Receitas ao Ar Livre também tem oficinas para adultos e crianças sobre educação alimentar. Um dos pontos mais importantes, segundo a fundadora, é entender qual é o caminho percorrido pelo alimento até chegar nos pratos dos milhões de brasileiros. Da onde veio esse alimento? Como foi produzido? O que deste alimento eu posso utilizar?
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A ideia é ensinar à população que é possível consumir boa parte do alimento: casca, fruto, semente, folhas e afins. Com isso, Tchelly também ensina como evitar o desperdício dos alimentos, um tema que a preocupa demasiadamente. “O maior desafio do Favela Orgânica é que as pessoas estão passando fome com tanta comida sendo produzida no mundo”, afirma.
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Para ela, quando se começa a “refletir o que estamos fazendo, é muito mais fácil entender que é possível aproveitar até o talo dos alimentos. E o que é o ciclo do alimento? É pegar um alimento e multiplicar em várias preparações”, como o bolo de casca de banana e a geleia de casca de tangerina, cujas receitas estão estampadas no Morro da Babilônia. “E o que não dá para usar dar de alimento novamente para a terra”, conclui Tchelly.
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Além das oficinas e do projeto Receitas ao Ar Livre, o Favela Orgânica também realizou a distribuição de cinco mil marmitas durante a pandemia de covid-19, em quatro favelas do Rio de Janeiro. O alimento? Saboroso, barato, vegano e proveniente de pequenos produtores.
Depois dessa, até deu vontade de comer um bolo de casca de banana, com geleia de casca de maracujá, certo? Para conhecer o projeto, receitas e participar os cursos da oficina, clique aqui para acessar as redes sociais de Regina Tchelly.
Edição: Douglas Matos