Em assembleia realizada no final da tarde desta terça-feira (22), em Brasília (DF), empregados dos Correios deliberaram por um repúdio coletivo contra a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que, na segunda (21), determinou o fim da greve e retirou 50 entre 79 direitos anteriormente conquistados pela categoria por meio do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).
Os funcionários que atuam no Distrito Federal (DF) também resolveram voltar às atividades a partir das 23 horas desta terça (22). Apesar do capítulo que encerra os mais de 30 dias de greve, o Sindicato dos Trabalhadores dos Correios e Telégrafos do DF (Sintect-DF) vê aspectos vitoriosos no movimento e se prepara para uma "grande batalha" contra a privatização da empresa..
“A gente avalia que a greve em si foi muito positiva e teve uma unidade muito grande de todos os trabalhadores como classe. A gente sai satisfeito com o que foi construído na greve”, disse ao Brasil de Fato a presidenta da entidade, Amanda Corcino.
Nossa grande batalha mesmo vai ser contra a privatização.
A deliberação pelo retorno às atividades se dá no nível estadual e diferentes assembleias ainda deverão ocorrer na noite desta terça pelo país. No DF, o movimento sindical tenta dar uma injeção de ânimo na base para lembrar os próximos capítulos da disputa.
“Pedimos hoje aos trabalhadores pra recompor as forças porque a nossa grande batalha mesmo vai ser contra a privatização. A empresa deu um importante passo do lado deles porque barateou o custo do nosso serviço retirando esses direitos. Então, a gente sabe que agora ela vai vir com tudo com esse projeto de privatizar e que a gente vai precisar recuperar nossas forças pra lutar contra ele. Não teremos muito tempo pra nos lamentar”, frisa Amanda Corcino.
Crítico ao resultado proclamado pelo TST, o carteiro Romilson Rodrigues, que atua em Natal (RN), se diz “revoltado” com a decisão dos ministros, mas também realça “vantagens” na greve. Ele cita o fato de cinco dos sete magistrados da Seção Especializada em Dissídios Coletivos (SDC) do TST terem considerado a paralisação como não abusiva, ao contrário do que foi demanda judicialmente pela direção dos Correios.
“Então, o nosso movimento foi válido e, de certa forma, foi vencedor porque nós não aceitamos em nenhum momento a imposição de um governo ditatorial”, ressalta, ao criticar a conduta da estatal diante das tentativas de negociação. A greve foi deflagrada em 17 de agosto após os Correios suspenderem 70 dos 79 pontos do ACT para 2020/2021. Durante o julgamento de segunda-feira, alguns ministros destacaram que a direção se mostrou indisponível para um acordo.
“A ECT [Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos] negou-se peremptoriamente em apresentar qualquer avanço no sentido de atender ao menos parcialmente às reivindicações da categoria”, disse, por exemplo, a relatora do processo, Kátia Arruda.
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Resultado
Entre as cláusulas que foram suspensas do ACT por parte dos ministros, os trabalhadores perderam, por exemplo, auxílio-creche, licença-adoção, direito a itens de proteção para contextos de trabalho com baixa umidade relativa do ar, vale-cultura e licença-maternidade de 180 dias. No caso desta última, ela voltará a ser de 120 dias.
A direção da empresa alegou problemas financeiros para a manutenção integral do ACT. No julgamento, os magistrados decidiram ainda que os grevistas precisarão ter metade dos dias de greve descontada no salário.
“Como se pode ver, nós perdemos muita coisa. A mídia não deu a cobertura que nós precisávamos e alguns chegaram a dizer que estávamos brigando por ‘vale-peru’, mas estávamos lutando por direitos. Pra mim, ficou claro que nem sempre podemos confiar na Justiça. Eu não gosto de generalizar, mas essa decisão de ontem foi absurda”, critica carteiro Romilson Rodrigues, que retornou ao trabalho nesta terça.
Em nota pública divulgada nesta mesma data, a direção dos Correios disse que a maioria dos grevistas retornou às atividades e que 92,7% do quadro estavam operando.
Edição: Rodrigo Chagas