Por indicação do Brasil, o advogado Arthur Weintraub é o novo secretário de Acesso a Direitos e Equidade da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ele assumiu a função, que tem um salário mensal equivalente a mais que R$ 50 mil, no início desta semana, quando foi exonerado do cargo que ocupava no governo Jair Bolsonaro, de assessor especial da Presidência.
Professor de direito previdenciário, o irmão mais novo do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub primeiro ficou conhecido em seu círculo profissional por meio de vídeos de aulas e palestras publicadas na internet em que explica por que não acredita que indígenas possam formar povos e que os chineses não têm como compreender o conceito de Direito.
Mais recentemente, em uma palestra em dezembro do ano passado, explicou a alguém do público como debater com uma pessoa de esquerda: “Quando um comunista ou socialista chegar pra você com um papo fronhonhoim, você pega e manda ele para aquele lugar, xinga, faz o que o professor Olavo [de Carvalho, ideólogo do governo Bolsonaro] fala. Quando você for dialogar com uma pessoa sem integridade intelectual, você não pode ter premissas racionais." Já neste ano, Arthur Weintraub chamou atenção ao defender frequentemente, em suas redes sociais, a tese de que a pandemia do coronavírus é parte de uma "a conspiração globalista" que, paradoxalmente, une “oligopolistas apoiando maciçamente os comunistas”.
Em outra ocasião, na semana passada, já morando nos EUA para exercer o novo cargo na OEA, Arthur Weintraub disse não querer usar máscara na rua porque o objeto é “um broche do Partido Comunista”. À uma transeunte em Washington, explicou por que a covid-19 se trata de uma “praga esquerdista”.
Aqui nos EUA as máscaras na rua não são obrigatórias. Mas tem pateta que usa no meio de área verde vazia. E tem uns que ainda te cobram de usar na rua (uma mulher veio nos cobrar, mas não conseguiu nos convencer). Essa máscara é o broche do partido comunista. Você ousa não usar?
— Arthur Weintraub (@ArthurWeint) September 18, 2020
Bilionário Michael Bloomberg planeja doar US$ 100 milhões para a campanha de Biden. Alguém ainda duvida que os globalistas são muito mais complexos do que meros marxistas? Monopolistas e oligopolistas apoiando maciçamente os progressistas/socialistas/comunistas. Disso se trata. pic.twitter.com/co7lZUiww5
— Arthur Weintraub (@ArthurWeint) September 13, 2020
A secretaria-Geral da OEA é atualmente ocupada pelo uruguaio Luis Almagro, que assumiu o posto em 2015, após ter sido chanceler do governo de José Mujica. Para o professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) Luciano Wexell Severo, doutor em Economia Política Internacional pela UFRJ, coincide com a chegada de Almagro ao posto um movimento da OEA em direção às políticas e interesses externos dos EUA, em detrimento aos de nações latinas.
A secretaria que Weintraub está assumindo (de Acesso a Direitos e Equidade) é uma das seis que compõem a Secretaria Geral da OEA, com temas como segurança, assuntos jurídicos, finanças e fortalecimento da democracia. Entre suas tarefas está promover a agenda da equidade na região, transformar em leis direitos consagrados dos povos, “tendo a equidade como objetivo, a inclusão social como processo, e a promoção do pleno gozo dos direitos humanos como estratégia”.
Entre suas atribuições, está o planejamento e organização das reuniões de nível técnico e político nos seguintes órgãos:
· Rede de Segurança e Saúde do Consumidor e Sistema Interamericano de Alerta Rápido
· Programa de Ação para a Década das Américas pelos Direitos das Pessoas com Deficiência
· Comitê de Acompanhamento da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas com Deficiência
· Coordenação do Projeto de Inclusão no Haiti, para modernização institucional e promoção dos direitos das pessoas com deficiência
· Grupo de Trabalho sobre os Direitos Humanos das Pessoas Idosas
“O cargo para Arthur Weintraub representa uma radicalização da OEA em favor da política externa dos Estados Unidos e contra os governos latino-americanos que se posicionam de maneira mais autônoma, mais soberana, buscando processos de emancipação nacional e libertação econômica”, explica o professore Wexell Severo, que ressalta que as decisões e posturas da OEA em questões internas de países como Bolívia, Nicarágua, Cuba e Venezuela sofrem crescente influência EUA de 2015 para cá.
Edição: Rodrigo Durão Coelho