GUERRA À VISTA?

Venezuela inicia exercícios militares contra ameaças dos EUA, Colômbia e Brasil

Ações hostis da Casa Branca e aliados aumentam tensão no cenário pré-eleitoral

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Chefe do Comando Estratégico Operacional das Forças Armadas coordena primeiro dia de exercícios militares na Venezuela. - Fanb

Na Venezuela, a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) começou a realizar exercícios armados com militares e civis, na última quinta-feira (24), para reforçar a defesa do país. As atividades fazem parte do Plano de Cooperação de Operações, anunciado por Nicolás Maduro na última terça-feira para fazer frente às ameaças dos Estados Unidos e de países vizinhos, como Colômbia e Brasil.

Esses primeiros exercícios contarão com a participação de 950 efetivos do Exército e da Guarda Nacional, além de 1,5 mil brigadistas, que são civis com formação militar. No entanto, os ministérios de Defesa e do Interior criarão novos operativos para aumentar a segurança nas semanas prévias às eleições legislativas do dia 6 de dezembro. Ao todo, foram destacados 12,5 mil efetivos militares e 153 mil brigadistas, organizados em 637 bases populares de defesa integral.

A movimentação começou em resposta à ação de representantes do governo estadunidense, que fortalecem a política de "máxima pressão", anunciada por Donald Trump ainda no começo de 2020, como estratégia para derrotar Maduro. 

A Casa Branca atua em várias frentes para manter sua ameaça. Especialistas classificam o processo como "guerra híbrida" ou "guerra multiforme", de modo a debilitar governos usando mecanismos econômicos, midiáticos e políticos. 

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"É a política de máxima pressão, de todas as opções sobre a mesa, de mudança de regime. É a mesma estratégia que se incrementa. E por quê? Por que Trump fracassou na última fase deste plano que começou em janeiro de 2019, quando reconheceu uma marionete como presidente da Venezuela, e realizou uma série de ações de agressão direta", analisa William Castillo, vice-ministro de comunicação. 

Ameaça regional

A ideia de que a Venezuela representa uma ameaça para a região é uma narrativa construída, desde 2019, pelos países do chamado Grupo de Lima, que opera dentro da Organização dos Estados Americanos (OEA).

No dia 18 de setembro, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, visitou o Brasil. Em vez de ir a Brasília, esteve na cidade de Boa Vista (RR), estado vizinho da Venezuela.

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O funcionário de Trump foi recebido pelo ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo, que reafirmou os interesses mútuos de "derrubar" o governo de Nicolás Maduro. 

A visita ocorreu depois que o Ministério da Defesa lançou um novo Plano Nacional de Defesa, abandonando a tradição de uma diplomacia de paz para assumir uma postura de confronto. Em síntese, o país afirma estar pronto para se defender de ameaças regionais. 

Já na Colômbia, outro país vizinho da Venezuela e também membro do Grupo de Lima, no final do mês de agosto, o presidente Iván Duque e o Pentágono lançaram o plano Colombia Crece de combate ao narcotráfico. Analistas concordam que o operativo militar representa uma ameaça para a Venezuela, considerando a movimentação de tropas na região fronteiriça e as acusações de que o Estado venezuelano promove o narcotráfico. Também chamou atenção o discurso do próprio Duque ao lançar o Plano, quando garantiu que pretendia "acabar com a ditadura de Maduro". 


Estado Maior reunido para definir o plano República 2020, a estratégia de segurança para as eleições legislativas de 6 de dezembro. / Fanb

Supostas violações aos direitos humanos

As acusações de que a Venezuela seria uma ameaça para a América Latina se somam às denúncias de supostas violações aos direitos humanos.

Também nesta semana, durante o 75º período de sessões da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), foi divulgado um informe de uma missão independente do organismo que acusa a atual gestão de acobertar crimes de lesa humanidade, sem nunca ter visitado o país. O tom foi oposto ao das declarações da Alta Comissionada Michelle Bachelet, que elogiou a cooperação técnica com a Venezuela durante a última sessão do Conselho de Direitos Humanos do organismo.

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Em setembro de 2019, foram aprovadas duas resoluções no Conselho de Direitos Humanos. Uma, autorizando o aumento da presença da equipe de Bachelet na Venezuela; outra, aprovada por minoria, que propôs a criação de uma comissão verificadora. 

"Essa é a verdade desses organismos das Nações Unidas. Há interesses políticos e econômicos por detrás desses informes", afirma Castillo. 

O documento da missão de verificação foi respondido por representantes do Estado venezuelano em um relatório denominado "A verdade da Venezuela". Além disso, Maduro ressaltou sua disposição para se reunir com representantes do Conselho de Direitos Humanos da ONU para aprofundar os laços com a nação.

Ofensiva militar 

Há pouco mais de uma semana, no dia 14 de setembro, a Força Armada Nacional Bolivariana derrubou um avião com número de série dos Estados Unidos que sobrevoava o espaço aéreo venezuelano sem permissão. 

No mesmo dia, foi capturado um ex-militar estadunidense, veterano da guerra do Iraque, que havia entrado de maneira irregular no país e continha informações sigilosas sobre a PDVSA, a estatal petroleira venezuelana. 

O Ministério Público assegura que Matthew John Heath tinha a missão de explodir a refinaria de Amuay, estado Falcón, no norte da Venezuela. 

"Esse não é o primeiro agente da CIA capturado na Venezuela. Estados Unidos se movimenta com esse formato de terceirização da guerra, como fizeram com a Operação Gedeón ou operam com agentes no terreno, que planejam operações de sabotagem", declarou o vice-ministro.

De acordo com o depoimento do estadunidense detido, a Casa Branca teria autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a elaborar planos desestabilizadores contra a República Bolivariana. 

O presidente Maduro denunciou a movimentação de tropas irregulares na região de La Guajira, compartilhada entre a Colômbia e a Venezuela. Enquanto isso, ainda está vigente um operativo militar antidrogas no Mar do Caribe, que na prática representa um bloqueio naval, que ameaça a entrada de qualquer navio às costas venezuelanas. É o caso de três barcos iranianos que tentam levar petróleo e outros insumos para a Venezuela. 

Asfixia econômica

Desde 2015, ainda na gestão de Barack Obama foi implementado um bloqueio econômico contra a Venezuela, declarando o país como uma "ameaça inusual à segurança dos EUA". Nos últimos anos, Trump recrudesceu o bloqueio, que já gerou um prejuízo de cerca de 30 bilhões de dólares aos cofres públicos venezuelanos. 

O embargo vem acompanhado de sanções unilaterais que buscam impedir transações financeiras ou abrem brecha para ações judiciais contra cidadãos venezuelanos. 

Em agosto, o departamento de Estado sancionou autoridades do poder eleitoral venezuelano e opositores que irão participar das eleições legislativas de dezembro.

E, nesta semana, Trump anunciou novas medidas coercitivas unilaterais contra o chefe de Estado venezuelano por suas relações com o Irã. 

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Para William Castillo, a nova ofensiva tem como objetivo melhorar o resultado eleitoral para Donald Trump e dificultar a realização das eleições legislativas na Venezuela. 

"Como sua estratégia vem fracassando, eles incrementam a pressão imaginando que à medida que façam sofrer o povo venezuelano vão gerar uma crise política, um enfrentamento, vão dividir as Forças Armadas e vão gerar o que eles chamam de "tormenta perfeita", vão gerar mais violência, mais desestabilização, o que justificaria uma intervenção militar estrangeira. Essa é, em essência, a política desde 2016 e é a política agora, mas se agudiza porque Trump não está seguro da sua reeleição e não tem nada para apresentar como êxito na sua política internacional", afirma. 






 

Edição: Daniel Giovanaz