O crescimento no número de infectados pela covid-19 em Manaus levou o prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) a sugerir que fossem decretadas medidas de isolamento rígidas por duas semanas na capital amazonense. Horas depois, o governador do Amazonas Wilson Lima (PSC), descartou a possibilidade e confirmou o retorno das aulas presenciais no ensino fundamental. Os embates vieram a público no mesmo dia em que o estado perdeu um ícone cultural do boi-bumbá, o cantor e levantador Klinger Araújo.
O artista estava internado com covid-19 desde o dia 13 de setembro. Aos 51 anos, Klinger tinha trajetória de 30 anos nas manifestações culturais. Conhecido como Furacão do Boi e Mestre, era adorado pela população da região. Além de atuar nos festivais de Boi Bumbá, ele também percorria o país divulgando a tradição folclórica do Amazonas.
Manaus já registrou a morte de mais de 2,5 mil pacientes com coronavírus. O número de casos ultrapassa 50 mil pessoas na cidade, que passou por colapso nos sistemas de saúde e funerário em abril e maio. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM), o total de infectados no estado é de 136.708 e óbitos chegam a 4.031. Os números das últimas semanas estão bem abaixo dos picos registrados no primeiro semestre. Todavia, pesquisa da Fiocruz alerta para altas contínuas há quarto semanas.
A trajetória da covid-19 na capital amazonense chegou a ser usada como exemplo para o conceito de imunidade de rebanho, quando a circulação do vírus é controlada após um grande número de pessoas infectadas. Em todo o mundo, no entanto, especialistas eram unânimes ao alertar para o total expressivo de mortes que são causadas até que esse patamar seja atingido. Além disso, a volta do crescimento de casos em Manaus enfraquece a tese consideravelmente.
Exemplo para o Brasil
A situação da capital do Amazonas pode servir como alerta para o Brasil como um todo. O país viu um decréscimo nos números diários de casos e óbitos nas últimas semanas, mas praticamente todo o território nacional tem índices de isolamento girando entre 35% e 47% desde agosto.
Para a Organização Mundial da Saúde, as medidas de distanciamento estão entre as principais formas de controle da propagação do vírus. Com o vírus ainda em circulação e a população nas ruas, os números podem voltar a subir.
Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa* que atualiza os números da pandemia, o total de mortes pelo coronavírus no Brasil chega a 143.010. Quase 850 óbitos foram registrados em um dia desde a segunda-feira (28). Até agora 4.780.317 pessoas foram contaminadas pela covid no país, 31.990 confirmações ocorreram somente nas últimas 24 horas.
O que é o novo coronavírus?
Trata-se de uma extensa família de vírus causadores de doenças tanto em animais como em humanos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em humanos os vários tipos de vírus podem provocar infecções respiratórias que vão de resfriados comuns, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), a crises mais graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Severa (SRAS). O coronavírus descoberto mais recentemente causa a doença covid-19.
Como ajudar quem precisa?
A campanha “Vamos precisar de todo mundo” é uma ação de solidariedade articulada pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo. A plataforma foi criada para ajudar pessoas impactadas pela pandemia da covid-19. De acordo com os organizadores, o objetivo é dar visibilidade e fortalecer as iniciativas populares de cooperação.
*O consórcio de veículos de imprensa é uma iniciativa que reúne G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL na apuração diária de números da covid. O Brasil de Fato atualiza os dados da pandemia a partir das informações do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, mas o site da instituição está fora do ar há dois dias. Por entender que os resultados informados pelo Ministério da Saúde podem não ser fiéis à realidade, o BdF utiliza, excepcionalmente neste texto, os número levantados pelo consórcio.
Edição: Rodrigo Chagas