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Três ministros deixam governo autoproclamado da Bolívia após divergências com Áñez

Titulares das pastas do Trabalho e Desenvolvimento Produtivo renunciaram; ministro da Economia disse que foi pressionado

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Ministros do governo interino de Jeanine Añez renunciaram na última segunda-feira (28) - ABI

Os ministros da Economia, do Trabalho e do Desenvolvimento Produtivo da Bolívia deixaram seus cargos nessa segunda-feira (28/09) após divergências entre o titular da pasta econômica e o governo da autoproclamada presidente Jeanine Áñez.
Óscar Ortiz, do Ministério da Economia, foi o primeiro a anunciar sua saída. O agora ex-titular apontou discordâncias com o chefe de Ganinete de Áñez, Arturo Murillo, e com a própria presidente sobre a entrega de ações da empresa estatal de energia Elfec ao setor privado.

"Não estou disposto a assinar qualquer decreto que vá contra o sistema legal ou não tenha amparo legal suficiente", disse Ortiz. O ex-ministro ainda destacou que não havia renunciado, mas que foi vítima de pressões e notícias falsas para que deixasse o cargo.
"Entendo que já decidiram designar outra pessoa, por isso vim justamente hoje limpar meu escritório. Sairei com a consciência tranquila por ter servido ao país com meu conhecimento, experiência, trabalho e o melhor de meu empenho”, disse Ortiz, em coletiva de imprensa.

Há duas semanas, a presidente autoproclamada da Bolívia, que assumiu o cargo após o golpe de Estado de novembro de 2019 que forçou a renúncia de Evo Morales, anunciou a entrega de ações da estatal Elfec à empresa privada Cooperativa de Telefones de Cochabamba.

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Essas ações pertenciam a 360 trabalhadores de Cochabamba e a entrega ao setor privado foi uma promessa feita por Áñez no início do ano. A empresa foi estatizada por Evo em 2010. O próprio ex-presidente criticou a decisão de Áñez e disse que "não é apenas inconstitucional, mas é um sério atentado à cadeia de produção de distribuição de energia elétrica".
Segundo o jornal El Deber, a ideia é defendida pela mandatária e por Murillo, mas enfrenta resistência de parte do gabinete ministerial, que enxerga a iniciativa como o começo da privatização total da empresa.

Após as declarações de Ortiz, os ministros Óscar Mercado, do Ministério do Trabalho, e José Abel Martínez, Ministério do Desenvolvimento Produtivo, renunciaram ao cargo.

Ainda nesta segunda-feira, Áñez nomeou novos ministros. Branko Marinkovic, que ocupava a pasta do Planejamento, assumirá a pasta da Economia. Em seu lugar, assume Gonzalo Quiroga. Alvaro Tejerina será o novo ministro do Trabalho. Até o momento, ainda não foi nomeado quem comandará a pasta do Desenvolvimento Produtivo.

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A desestabilização do gabinete de Áñez acontece a apenas 21 dias das próximas eleições presidenciais do país. Enfraquecida politicamente, a autoproclamada presidente deixou a disputa. As últimas pesquisas apontam Luis Arce, candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales, como favorito.