Controle

Indígenas montam estratégia própria contra a covid-19 em Andirá-Marau

Barreiras sanitárias fiscalizam barcos de pesca, recreio e comerciais

|

Ouça o áudio:

Pesquisador afirma que faltou iniciativa do governo federal para proteger áreas indígenas da pandemia
Pesquisador afirma que faltou iniciativa do governo federal para proteger áreas indígenas da pandemia - Arquivo/Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Assim que souberam da pandemia do novo coronavírus, ainda no mês de março, indígenas da etnia Sateré-Mawé, do Amazonas, decidiram montar estratégias próprias para evitar que a doença se espalhasse pela terra indígena Andirá-Marau.

Essa iniciativa foi alvo de um estudo dos pesquisadores Bader Sawaia e Flávia Busarello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e Renan Albuquerque, da Ufam, a Universidade Federal do Amazonas. Segundo o professor Renan, os indígenas criaram barreiras sanitárias para fiscalizar a circulação de barcos de pesca, recreio e comerciais.

:: Justiça determina distribuição de cestas básicas a indígenas no Pará ::

"Foi observada a necessidade de trancamento das entradas das terras indígenas. Se cada terra indígena tinha cinco ou sete pontos de acesso principais, então nesses pontos de acesso foram colocadas cancelas. Equipes indígenas se revezavam para fiscalizar quem entrava e quem saia", explica. 

Renan destaca que a medida adotada pelos sateré ajudou a diminuir os casos da covid-19 dentro das aldeias.

"Uma estratégia não hospitalar resolveu muito do muito do não espalhamento do vírus para dentro de terras indígenas. É claro que não impediu. Mas amenizou muito. Demonstrou que soluções comunitárias, caseiras, domésticas, locais, muitas vezes resolvem o problema", salienta. 

:: Indígenas alegam que Funai negou apoio à aldeia que foi ameaçada com ação de despejo ::

Apesar de ser uma estratégia bem-sucedida para conter o avanço do novo coronavírus, por outro lado, a criação das barreiras sanitárias têm dificultado o acesso dos indígenas aldeados a alimentos que vem de fora. É o que observou o pesquisador.

"Na medida em que se formam medidas sanitárias, também é necessário voltar-se à agricultura familiar, caça, pesca, construção de hortas comunitárias. E muitas vezes, nem todas as comunidades que formam um etnia têm essa disposição e apoio. Construir e manter as barreiras sanitárias nas terras indígenas foi difícil por falta de apoio logístico e alimentar do governo federal", ressalta.     

:: Os Kuikuro contra o vírus no Alto Xingu: "não teve mortes graças à nossa organização" ::

Renan Albuquerque informou que o estudo foi publicado na Revista Psicologia e Sociedade, considerada de grande relevância no meio científico.

Procuramos a Funai para saber se o órgão tem acompanhado as ações dos indígenas sateré-mawé no combate à covid-19, mas até o fechamento desta reportagem, não recebemos retorno.